Já foi a cidade mais jovem da Europa e é ainda um dos concelhos em que a juventude representa uma fatia mais alargada dos seus habitantes. Mas Braga é mais do que uma cidade feita de jovens, é também uma cidade onde os mais novos têm participação cívica activa. Agora, quer pegar nesta energia e apostar na qualificação e no empreendedorismo desta população quando for Capital Europeia da Juventude (CEJ), em 2012.
Esta não é uma organização de orçamentos milionários ou grandes obras públicas. A autarquia prevê gastar entre um milhão e um milhão e meio de euros, que serão gastos sobretudo em acções de formação. "A nossa prioridade é proporcionarmos mais qualificações aos jovens", assume o vereador da Juventude, Hugo Pires. "Queremos dar mais mundo aos jovens bracarenses", sublinha o autarca, de 32 anos. Além da formação, a CEJ também terá festa e eventos culturais, mas esses não serão a prioridade do município. "Daremos todos os meios necessários, mas terão que ser as associações de Braga e outras iniciativas privadas a fazer os grandes investimentos nessa área", explica Pires. Uma das propostas centrais do projecto de candidatura é a criação de um Gabinete de Empreendedorismo, em parceria com a Associação Académica da Universidade do Minho, que apoie os jovens a concretizar projectos empresariais e de criação de emprego.
A Universidade do Minho é um dos elementos centrais desta dinâmica jovem bracarense. "Tem sido muito importante para a fixação de jovens na região", lembra Hugo Pires. Em Braga estudam cerca de 10 mil alunos, um quarto em cursos de pós-graduação, e existe um conjunto de importantes centros de investigação que contribuem para a imagem de uma cidade jovem e inovadora. Este contexto ajudou a convencer o Fórum Europeu da Juventude, mas o júri considerou determinante a aposta na qualificação e no empreendedorismo, fazendo com que a a cidade portuguesa conseguisse bater a concorrência grega de Byron e Iráclion na fase final do processo de escolha.
"Cidade paradoxal"
À primeira vista, Braga parece uma intrusa num "clube" restrito de que fazem parte Roterdão, que acolheu o certame no ano passado, e Turim, que é a CEJ este ano. Antes da cidade portuguesa, também Antuérpia recebe o certame.
Mas, além de uma população muito jovem, o concelho tem também cerca de 100 associações inscritas no Registo Nacional de Associativismo Juvenil. "O facto de estar aqui sediada a Agência para o Programa Juventude em Acção é um incentivo à participação juvenil", aponta Tiago Mourão, dirigente da Ágora Bracarense, uma associação cívica nascida em 2005.
Entre esta centena de associações, há umas mais activas do que outras, mas, nos últimos anos, o que vai acontecendo em Braga tem quase sempre o cunho de uma população jovem. Foi o caso da petição pelo regresso do eléctrico à cidade, lançada por Pedro Morgado, em 2007, quando tinha 23 anos, e que pôs a cidade a discutir uma estratégia para a mobilidade.
"Nunca encontrei grandes entraves às iniciativas cívicas em que participei. Contudo, a questão essencial é saber se Braga está a aproveitar o enorme potencial da sua juventude para se desenvolver. E nesse aspecto penso que ainda podemos melhorar muito", avalia o autor do, entretanto extinto, blogue Avenida Central.
A defesa do complexo de abastecimento de água do século XVIII das Sete Fontes - ameaçado pela construção do novo hospital da cidade - também tem sido feita por uma associação juvenil, a Jovem Cooperante. Ricardo Silva, que preside a esta instituição de defesa do património e ambiente, acredita que Braga é uma cidade "cada vez mais aberta à criação de instituições ligadas aos jovens". "Mas este é um movimento colectivo espontâneo, que não tem por base o poder político", adverte.
Para a JSD - que foi a primeira instituição a propor a candidatura de Braga a CEJ - Braga é uma "cidade paradoxal". "Há uma dinâmica de uma sociedade civil jovem, mas que nunca foi acompanhada por igual vitalidade da parte da autarquia", critica João Marques, líder daquela estrutura partidária local.
Esta não é, contudo, uma visão unânime da governação bracarense. "A câmara tem ido de encontro às necessidades dos jovens. Sentimos um esforço nesse sentido", considera Tiago Mourão, da Ágora. "A autarquia tem apoiado, nos últimos anos, várias propostas do movimento associativo, quer em condições logísticas, quer financeiras", acrescenta o presidente da associação Synergia, Ricardo Sousa, apontando o Festival da Juventude, dos Jogos Sem Limites e do Festival de Bandas como exemplos de organizações municipais destinadas à população mais nova. Independentemente da visão sobre a forma como tem sido conduzida a política de juventude, em Braga quase todos estão de acordo que 2012 terá que ser um ano marcante. "Se esta Capital Europeia da Juventude não servir para mudar as políticas locais de juventude, não passará de um evento para a estatística", antecipa Luís Tarroso, que lidera a cooperativa cultural Velha-a-Branca. "Em 2012 Braga vai seguramente ganhar muitas actividades e eventos de grande dimensão porque vai haver dinheiro e o dinheiro disfarça a falta de iniciativa", lamenta.
Pedro Morgado quer que, em 2012, não seja esquecida a importância para a região da Universidade do Minho ou do Instituto Ibérico de Nanotecnologia, que nessa altura já deve estar a funcionar em pleno. "A CEJ será uma oportunidade para dar a conhecer a cidade e a região aos jovens europeus, revelando-lhe o potencial que esta encerra em termos de oportunidades, em particular no que diz respeito à investigação científica e uma para captar a atenção dos empresários europeus para o potencial humano que frequenta as instituições de ensino superior do Minho", afirma.
Para Ricardo Silva, da Jovem Cooperante, a realização "tem que ser algo que marque. E que crie condições para que Braga seja sempre uma Capital da Juventude". "A CEJ é um evento com um cariz marcadamente simbólico, mas esperamos que seja o gérmen de uma nova realidade para a juventude", concorda João Marques, da JSD.
Para a autarquia, a Capital da Juventude é o momento ideal para "projectar internacionalmente a marca Braga". "Queremos afirmar-nos no contexto europeu como uma marca de juventude e inovação. O objectivo é que sejamos vistos como uma terra de oportunidade aos jovens", sublinha Hugo Pires.
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