"Correio do Minho" 19/07/2102
É certo e sabido que um dos grandes problemas do sector turístico é a sazonalidade. Facto que pode ser resolvido quando uma cidade se mune de uma oferta diversificada que abrange vários tipos de mercados em diferentes alturas do ano. Ora esta resolução da sazonalidade aliada com a mais-valia que é o sector turístico para a empregabilidade, aumentaria os postos de trabalho e reduzia-lhes a precariedade.
Partindo desta premissa, aquilo que é necessário, e que já há muito vem sendo dito e discutido, é a necessidade em apostar num turismo em que todos os recursos sejam aproveitados da forma mais correcta. No caso de Braga em particular, o turismo tem sido um sector subaproveitado e que ainda tem muitas cartas para dar, podendo com toda a certeza ser uma mais-valia para uma cidade, que tantos recursos tem, que esperam apenas, por parte das entidades responsáveis públicas e privadas, uma forma de se tornarem úteis.
Publicada no dia 11 do mês transacto, no jornal "Público", uma notícia com o título "Braga ainda guarda muitos tesouros que o público não pode ver", denuncia o descontentamento dos turistas estrangeiros que visitam a cidade de Braga. Cada vez mais turistas são confrontados com os monumentos fechados que para poderem ser visitados são necessárias autorizações especiais. Esta situação já há muito que vem sendo alertada pela população local e chega-nos agora um alerta dos turistas estrangeiros, aqueles que devemos ser capazes de chamar e de preservar na nossa cidade.
Ora não seria uma desilusão completa despendermos tempo e dinheiro para visitar um local, com a maior das expectativas e quando lá se chega dar literalmente com o nariz na porta? É o que acontece a vários visitantes na cidade de Braga que se vêem proibidos de visitar um património que é de todos e que a todos deve estar acessível.
Pelo que se dá a perceber na notícia, um dos problemas da abertura destes locais ao público é a falta de pessoal e a falta de recursos. Com certeza que a falta de pessoal não será um assunto complicado de resolver, assumindo que estamos a atravessar uma crise de empregabilidade em que anualmente saem milhares de licenciados de todas as universidade de todo o país e entre estes, centenas são aqueles que saem de cursos ligados ao sector turístico com vontade e acima de tudo necessidade de trabalhar e que viam um dos seus problemas resolvidos com estas propostas de emprego. Problema seria, sim, pagar os ordenados a este pessoal. Mas como em todos os problemas, quando há vontade, de uma forma ou de outra estes são resolvidos. E uma boa forma de resolver este problema em particular seria a cobrança de bilhetes à entrada dos monumentos, algo que teria de ser bem discutido e avaliado no caso de igrejas que abram as suas portas para a celebração da Eucaristia e que com certeza não iria ter objecção por parte dos visitantes, que asseguradamente preferem um bom investimento mesmo que maior do que um investimento "furado".
Há uma grande necessidade de manter os turistas o máximo de tempo possível na cidade que visitam de forma a gerar mais dormidas e maiores lucros. Não será surpresa nenhuma que Braga veja os seus números a aumentar se ao mesmo tempo aumentar o número de monumentos abertos ao público.
Mas não chega apenas tê-los abertos, é impreterível que estes sejam acessíveis e que sejam "abastecidos" de informação que possibilite a sua leitura e conhecimento. Neste seguimento, é necessária esta prática, não só em locais que possam vir a abrir como igualmente em locais que estejam já abertos, pois uma das queixas que consta no reportório dos turistas que vêm a Braga é a falta de informação. Esta reclamação vem provar a falta de capacidade que o Posto de Turismo de Braga tem para responder e corresponder às necessidades dos turistas. É inadmissível que o Posto de Turismo de Braga feche em alturas que são essenciais e uma coisa deve ficar presente no pensamento de quem a estas profissões se submete: o sector turístico exige horários completamente diferentes dos "normais"; os horários têm necessariamente de se adaptar às necessidades do público que estamos a servir, correndo o risco de o perder caso isto não aconteça.
Outro ponto fraco da gestão do turismo na cidade de Braga é o parco aproveitamento das tradições que dela fazem parte. Destaque particular para o folclore que é sem dúvida subaproveitado no que toca ao seu contributo para o turismo, caso que nos obriga a fazer referência a Viana do Castelo que faz, e muito bem, do folclore e das tradições a sua imagem de marca. Em jeito de exemplo, um dos maiores símbolos da cidade de Viana do Castelo é o tão conhecido casal tradicional "Manel e Maria" que pode ser encontrado "aos pontapés" nas lojas de lembranças da cidade em "todos os jeitos e feitios" e tamanhos. Ora, na cidade de Braga podemos encontrar vários galos de Barcelos, vários "Maneis e Marias" de todos os tamanhos e em todos os materiais que servem utilidades várias (porta-chaves, bibelôs, etc.), mas o mesmo não acontece com um dos maiores símbolos de Braga, o farricoco. O farricoco, o símbolo da Semana Santa de Braga, parece ser difícil de encontrar como simples porta-chaves de pano ou adereço para uma capa académica (como acontece com o "Manel e a Maria" em Viana do Castelo). Sendo um símbolo da cidade, ou que deveria ser, merecia uma maior aposta e diversidade na sua comercialização. E este é apenas um exemplo entre muitos.
Ainda referenciando outra notícia, esta do dia de hoje, destacada no "Jornal de Notícias" realça o contributo da Capital Europeia da Juventude em 40% no crescimento do turismo da cidade. Estes números são uma prova de que se existir oferta a procura tenderá a aumentar consequentemente. Um maior número de actividades e mais diversificadas é com toda a certeza uma boa aposta por parte da cidade e dos seus responsáveis.
Para finalizar, um dos pontos que, embora destacado em último lugar, não deixa de ser de extrema importância para o turismo é a promoção e divulgação da cidade nos meios adequados e que abranja a um público alargado. Ainda que muitas vezes a cidade de Braga seja mais conhecida por parte da população visitante do que pela população local, o que não deixa de ser um acontecimento infeliz, é importante que se invista numa boa promoção e divulgação original, que capte todas as atenções dos turistas e que realce todas as valências da cidade e do que esta tem para oferecer.
Fazendo uma suma do conteúdo e para que nada seja perdido, é fundamental:
- A valorização dos recursos da cidade e que estes se tornem acessíveis;
- Uma diversificação da oferta que poderá ser conseguida através do ponto anterior;
- Um maior apreço pelo património cultural e natural da cidade que é de valor incontestável para o turismo de Braga;
- Um aproveitamento e valorização das tradições da cidade que em muito podem contribuir para o aumento da qualidade do turismo da cidade (como por exemplo em lembranças, os ditos souvenirs ou em actividades temáticas);
- Um melhor funcionamento e melhores competências no Posto de Turismo de Braga;
- Uma aposta na qualidade e quantidade de informação dos monumentos da cidade;
- Criatividade, originalidade, diferenciação, transparência e responsabilidade por partes dos organismos responsáveis pelo turismo da cidade de Braga;
- Maior divulgação e promoção da cidade no estrangeiro e no país.
O que temos não é mais do que riqueza em bruto à espera de ser transformada num tesouro de valor incalculável. Com certeza, só teremos a ganhar com investimentos inteligentes, pelo que é preciso começar a exercitar e mudar mentalidades e sensibilizar as entidades responsáveis para a importância do património material e imaterial (que é muitas vezes descorado na cidade de Braga) em aliança com o sector do turismo.
Inês,
ResponderEliminarParabéns pelo texto. Há aqui boas ideias e influxos a retirar. Mais uma voz a alertar para o potencial que Braga tem a nível turístico, sendo indubitavelmente uma das cidades portuguesas com mais património (e diversificado) e com mais tradição, ou não fosse capital da província mais tradicionalista de Portugal. Apesar de não deter um plano de desenvolvimento turístico, a cidade consegue ser a terceira com maor nºumero de dormidas na região Norte (atrás do Porto e Gaia). Imaginemos como seria se efectvamente houvesse uma aposta declarada neste sector económico da parte da autarquia. Mais empregos criados, mais responsabilidade no tratamento e valorização do património, mais qualidade de vida (pois os turistas apreciam cidades sem filas de espera nos hospitais, com espaços verdes e de çazer, com um vasto programa cultural...).
Parabéns!