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16 de abril de 2013

Crónica A Voz à Juventude (19) Braga que corre mundo

"Correio do Minho" 16/04/2013
 

Braga que corre mundo

Li, há pouco tempo, no blogue Braga Maior, o post “A Braga que correu mundo”, dedicado a uma célebre gravura, do Séc. XVIII, que representa o Largo do Paço e que, frequentemente, vemos reproduzida nos locais mais insuspeitos e que, por banalidade, nos habituamos a passar por ela, sem saber as suas origens ou mesmo sem saber o que representa.

A primeira curiosidade desta gravura é que apresenta uma “cerca” em torno do Chafariz do Largo do Paço, algo que hoje não existe. Alguns investigadores afirmaram que esse murete nunca existiu, sendo um “acrescento” imaginativo do autor da gravura.

Felizmente, a nossa História está sempre pronta a ser reescrita, sobretudo por investigadores autodidatas, curiosos e amantes do passado. As redes sociais facilitam a disseminação dos elementos que vão surgindo. Um amigo partilhou, há pouco tempo, no facebook, uma imagem a preto e branco, bastante antiga, do Largo do Paço, onde ainda era possível ver esse murete. E assim, repôs-se um elemento da nossa história, desconhecida por muitos.

A segunda curiosidade desta imagem é que figurou no verso das notas de 500 escudos, entre os anos de 1981 e 1990. Verdadeiramente, esta imagem viajou por todo o país e, provavelmente, espalhou a imagem de Braga pelo mundo. Na parte da frente da nota, reproduzia-se o Mapa de Braun, outro documento histórico, de 1596, conhecido do grande público por, à semelhança da imagem do Largo do Paço, estar habitualmente afixado em estabelecimentos comerciais, habitações, escritórios, etc.

Este Mapa, que muitos associam à Braga do Arcebispo D. Diogo de Sousa, foi concebido à época de D. Frei Agostinho de Jesus, prelado de Braga entre 1588-1609, algo de que apenas me dei conta ao ler o blogue Braga Maior.

A par da imagem do Mapa de Braun, na nota de 500 escudos figurava o vulto de Francisco Sanches, personalidade do Renascimento, que terá sido batizado na Igreja de S. João do Souto em 1551.

Durante toda a sua infância viveu em Braga, na Rua do Souto. Frequentou o colégio bracarense de S. Paulo e foi aqui que tomou contacto com as primeiras fontes de conhecimento do homem e do mundo.
Ainda em tenra idade abandonou a cidade, partindo com o seu pai para França. Por volta de 1569, viajou para Itália, onde viveu alguns anos e formou-se em Filosofia e Medicina (indissociáveis no despontar do Renascimento).
Quando regressou a França, recebeu todos os graus académicos, na Faculdade de Medicina de Montpellier, desenvolvendo trabalhos noutras áreas científicas.

É no Largo S. João do Souto que a sociedade Bracarense presta homenagem a Francisco Sanches a partir de uma estátua.

Importa, pois, refletir que a emigração de potenciais quadros de valor não é um fenómeno da atualidade. Mas é certo que num período tão difícil para a conjuntura portuguesa, constitui-se, como desafio, travar a desmesurada fuga de “cérebros” nacionais para o estrangeiro, apostando, também na qualidade de ensino.

Afinal, Francisco Sanches deixou o seu nome legado a uma Escola que este ano celebra 40 anos de ensino. Aqui fica uma singela homenagem ao corpo docente, auxiliares e demais funcionários pelo empenho que depositam na instrução de uma nova geração.
Braga poderá voltar a correr mundo, não só através de gravuras, mas sobretudo pelos trabalhos que os alunos de hoje desenvolverão amanhã.

Convém realçar que as notas de 500 escudos foram um fantástico cartão de visita à nossa cidade, pelo que urge investir numa ação publicitária que provoque vontade aos turistas de conhecer a nossa cidade, o seu património e a sua cultura.

E porque falamos de património, convido o amigo leitor a estar presente no debate sobre as Sete Fontes que ocorrerá no próximo dia 18 (5ª feira), às 21h15, na Junta de Freguesia de S. Victor.


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