Parabéns
Confiança
Apesar dos dias de controvérsia
que se têm vivido na cidade, o passado 12 de Outubro foi dia da Saboaria e
Perfumaria Confiança soprar as suas velas, 124 para sermos mais exatos.
Em 12 Outubro de 1894, Braga singrava
na era da industrialização e dava-se a conhecer ao mundo através dos mais
famosos sabonetes. Desengane-se quem acreditava que esta seria mais uma
fábrica, pois a Confiança destacava-se não só pelos seus produtos, mas também
pela vertente humanista. Quantas fábricas, no dealbar do século XX, tinham uma
creche para os filhos dos funcionários? Quantas tinham um anfiteatro dedicado
às atividades lúdicas dos trabalhadores?
Com o passar dos anos, Braga foi
apagando uma parte da sua história, deixando desaparecer os edifícios que preenchiam
a vida industrial da cidade. Por esse motivo, consideramos os 124 anos da
Fábrica Confiança uma vitória, pois se os edifícios da era industrial foram
extintos, a Confiança surge como um último reduto da presença industrial na
cidade e lutar contra o esquecimento que lhe está a ser imposto. Infelizmente,
todos estes verbos devem ser conjugados no presente, pois, nos dias de hoje,
aos olhos da Câmara Municipal de Braga, a Confiança já não é o que era e está a
perder importância. Se o que aconteceu no passado com a Social Bracarense, a
Fábrica Taxa e, um pouco mais recente, a famosa Pachancho foi um apagão da “Era
Industrial Bracarense”, é simplesmente vergonhoso que, em pleno século XXI, se
considere que valorizar parte tão importante da nossa história se resuma em
manter 3 fachadas. Foi esta a teoria que vimos ser defendida pelo Prof. Miguel
Bandeira na reunião do Executivo Municipal, onde o Vereador “valorizou” toda a
importância da Fábrica Confiança confinando-a a “3 paredes”.
No entanto nem sempre foi assim,
pois, em 2003, a opinião do Prof. Miguel Bandeira, na altura representando o
Conselho Diretivo da ASPA, defendia que “o complexo arquitectónico da Fábrica
Confiança apresenta-se como um valor patrimonial digno de superior
classificação, que deverá ser legado às gerações futuras como memória exemplar
da evolução da indústria na cidade de Braga, reunindo potencialidades para se
constituir num equipamento cultural privilegiado da cidade…”. Ao que parece o
Vereador do Urbanismo já não defende as mesmas ideias, uma vez que em 2003
condenava “não ter havido inteligência estratégica de reutilizar os edifícios
aludidos…” e, por esse motivo “a Fábrica Confiança é redobradamente valiosa por
constituir o ultimo reduto da cidade de Braga no domínio da arqueologia
industrial.”. Será que o Prof. Miguel Bandeira, dirigente da ASPA, não tem
forças para convencer o Prof. Miguel Bandeira, Vereador da Câmara Municipal, a
desistir desta alienação?
A preservação e o aproveitamento
em prol da comunidade do edifício da Saboaria e Perfumaria Confiança foi sempre
defendida pela JovemCoop, o que se pode comprovar por todos os artigos escritos
pelos representantes da associação ao longo dos anos, e que foram tão bem
relembrados pelo Presidente da Câmara, Dr. Ricardo Rio, no decorrer da última
Assembleia Municipal. O Sr. Presidente quis usar os artigos para tentar mostrar
incoerência na forma de salvaguarda da Confiança, algo que não conseguiu fazer
(mas ficamos com este apontamento do que um autarca é capaz de fazer para manipular
o discurso e legitimar ações). É que, ao contrário dos atuais dirigentes da
CMB, a JovemCoop nunca fez da Confiança uma bandeira política, talvez seja este
o motivo que nunca nos fez mudar de opinião no que à valorização do imóvel diz
respeito. Como comprovamos neste artigo, em 2003 o Prof. Miguel Bandeira
assinou um parecer, ao qual a JovemCoop teve acesso, valorizando e defendendo a
Fábrica Confiança. Em Maio de 2011, Firmino Marques, presidente da Junta de
Freguesia de S. Victor, segundo o Correio do Minho “mostra-se triste pela
incapacidade da Câmara Municipal de Braga agarrar a oportunidade de reconverter
o espaço no âmbito das “Cidades Criativas”, como foi proposto pela Junta. Em
2013, nos diversos debates organizados pela JovemCoop e Braga+, Ricardo Rio, na
altura candidato da oposição, defendia a aquisição do imóvel por parte do
município. Em 2014, a actual CMB abre as portas da Confiança comemorando os
seus 120 dedicando-lhe uma sessão do “À Descoberta de Braga” entre outras
atividades, e valorizando os testemunhos de antigos operários. Contudo, em 2018,
a CMB que tanto valorizou, aceita e compactua com a venda do edifício por mais
meio milhão de euros do preço da aquisição, e considera-se tão soberana que não
aceita discussão sobre o assunto, não põe à consideração do Conselho
Estratégico para a Reabilitação Urbana (conselho do qual fazemos parte e já
discutimos projetos de alavancagem na reabilitação localizada), nem tão pouco
um adiamento da decisão, não fosse isso despertar mais consciências e terem de
prestar as verdadeiras motivações da venda. Felizmente, há quem se preocupe e
se mantenha íntegro no diálogo com a cidade, por esse motivo permitimo-nos dar
os Parabéns pelos 124 anos de Confiança, pois essa, pelo menos em algumas
pessoas, nunca se irá perder.