Liberdade, Liberdade
No passado dia 25 de Abril, a
liberdade portuguesa comemorou 46 anos de existência. Antes do seu “nascimento”
Portugal era um país oprimido, onde todos eram obrigados a pensar da mesma
forma e não havia espaço para questionar…
Mas houve um grupo que ansiou por
ser diferente, por pensar livremente e que “quis saber quem sou, o que faço aqui?”.
Unidos criaram o Movimento das Forças Armadas (MFA) que ousou sonhar com um
país, onde “o povo é quem mais ordena…”. Um sonho arriscado foi o do MFA, que
usou como senha uma música que, até então, era considerada ilegal, pois tinha
sido censurada pelo regime ditatorial que a considerava comunista. Com este
marco na história nacional, nomes como Melo Antunes e Otelo Saraiva de
Carvalho, principais estrategas do 25 de Abril, Salgueiro Maia, Capitão do
exército português e Ramalho Eanes, primeiro Presidente da República eleito
democraticamente, entre muitos outros, jamais serão esquecidos, pois mudaram o
rumo da história deste pequeno jardim à beira mar plantado.
Há ainda outro nome que merece
especial destaque quando se fala na “Revolução dos Cravos”, falamos de Celeste
Caeiro, que, por obra do acaso, juntamente com a bondade do seu coração, acabou
por ir distribuindo cravos vermelhos pelos soldados com que se foi cruzando
pelo caminho da revolução.
Hoje coexistem dois tipos de
gerações, a que viveu o 25 de Abril e a que apenas o estuda nos livros de História.
Será que esta última, tem verdadeira noção das conquistas da “Revolução dos
Cravos”?
Ironicamente, este ano em que
todos estamos “confinados” em casa, as redes sociais foram inundadas por fotografias
ao som de “Grândola Vila Morena” como se houvesse uma maior valorização da
Revolução de Abril. Como se todos exaltassem a liberdade que dizem agora não
ter. É certo que nestes dias celebramos uma revolução, enquanto outra ocorre,
mas a de hoje é certamente temporária e, apesar de nos tirar alguns movimentos,
teremos sempre a liberdade de expressão e pensamento. Hoje a falta de
“liberdade” é-nos imposta por um vírus e não por um grupo de ditadores. Apesar
de grande parte da população ter de estar resguardada em casa, todos temos a
liberdade de escolher os livros que vamos ler, das músicas que vamos ouvir, dos
filmes que queremos ver e, acima de tudo, todos podemos escrever livremente
expressando os nossos pensamentos e ideais. É fundamental que hoje todos tenham
essa consciência, o facto de travarmos forças uma grande pandemia fez-nos
valorizar pequenas coisas que tínhamos dadas como adquiridas, em parte por
fazerem parte do nosso quotidiano. Contudo, nunca podemos comparar o que
vivemos hoje, com os tempos vividos antes da Revolução de Abril. Hoje vivemos
uma falsa sensação de “opressão”, mas devemos aproveitar o momento que
atravessamos para usufruir de mais momentos familiares, apreciar o abrandar da
nossa vida, que muitas vezes não nos permite ter tempo para os nossos, e
valorizar também aqueles que mais amamos, pois facilmente percebemos que o
longe se fez perto.
Felizmente, perante a pandemia
que estamos a atravessar, existem inúmeras “Celeste Caeiro” que transformam os
seus cravos em bens essenciais e que os distribuem por todos nós, os soldados
desta revolução. A onda solidária que cresceu ao mesmo tempo que o “caos” se
instalou foi, na nossa opinião, magnífica e digna de uma grande congratulação.
Por esse motivo, aproveitamos esta crónica para agradecer, publicamente, a
todos aqueles que vestem a camisola solidária!
Por todos aqueles que lutam
contra esta pandemia pedimos-lhe a si, caro leitor, que nesta revolução
seja o
nosso Salgueiro Maia, ficando em casa! Sem nos apercebermos, todos os dias
comemoramos o 25 de Abril, porque todos os dias usufruímos da nossa liberdade,
pois mesmo em casa somos livres!