A César o que é de César
Pelo décimo quarto ano
consecutivo, Braga voltou a cobrir-se de vermelho e dourado para honrar as suas
origens enquanto cidade. Desengane-se aquele que pensa que a Braga Romana é
sempre igual, pois cada edição é única.
Nesta edição, melhoria e inovação
foram notórias e não terão passado despercebidas a todos aqueles que, ao longo
dos anos, têm vindo a participar naquela que é a recriação histórica das
origens da cidade. Na nossa opinião, muito mais do que um mercado animado, a
Braga Romana é pedagógica. Prova disso é a área pedagógica que, a cada edição,
aumenta a oferta e ainda assim parece ser insuficiente, pois há sempre quem
queira participar. Este ano, o melhoramento do espaço deu o merecido destaque àquela
que é uma das mais importantes áreas do evento. Não faria sentido comemorarmos
as nossas origens sem as partilharmos com os mais novos que se mostraram sempre
curiosos e animados em conhecer as histórias da cidade augusta. Também a forma
como se envolve a comunidade - as associações, as escolas, todos os voluntários
- torna a Braga Romana num grande evento pedagógico, pois todos, ou quase, se
vão esforçando para aprender um pouco mais sobre a civilização romana. Por
exemplo, este ano, com a primeira edição do concurso de estandartes, muitas
foram as escolas e associações que realizaram um novo trabalho de pesquisa para
poderem participar corretamente. As recriações históricas são também uma
interessante aposta para enriquecer a visita de quem anda pelo espaço à
descoberta, veja-se por exemplo a presença do IEFP nas Termas Romanas que
conseguiu, de um modo muito peculiar, cruzar a história com a atualidade,
transmitindo assim o quotidiano romano e também os cursos disponíveis pelo
mesmo. Podemos, ainda, abordar as visitas guiadas e o curso de latim, que
permitiu descobrir Bracara Augusta, para além daquela que é associada à Braga
Romana.
No entanto, sempre que há
inovação, há também um risco que se corre, pois poucas são as coisas que
ocorrem bem à primeira e que não podem melhorar. Na nossa opinião, agora que já
terminou a 14ª edição da Braga Romana, é tempo de refletir sobre a 15ª edição e
tentar sempre aperfeiçoa-la. Para a JovemCoop, a Braga Romana já é muito mais do
que um evento para a cidade, pois a sua amplitude já a tornou num dos momentos
turísticos da cidade. Por esse motivo, deverá também ser pensada para aqueles
que a visitam, tendo informações em várias línguas como castelhano/galego,
inglês e francês, por exemplo. Não só os flyer’s devem ser traduzidos, como
devem existir, nos locais centrais, informações que orientem os visitantes, ou,
pelo menos, pessoas capazes de os compreender e de lhes explicar todo o evento.
Também por ser uma recriação histórica cada vez maior e mais conceituada, deve
continuar a crescer o rigor no evento e nos seus cortejos, evitando óculos de
sol, verniz, sapatilhas, ou mesmo o mero desfile de roupas da época. A
participação com uma alusão histórica deve ser um desafio colocado à
comunidade.
Não poderíamos falar desta edição
da Braga Romana sem falarmos de “Augusto Prima Porta”. Reconhecemos que esta
representação do imperador César Augusto poderá ser um pouco afastada daquele
que é o nosso (pre)conceito de estátua. Contudo, deve ser tida em conta toda a
investigação científica existente acerca da mesma. Todos poderão ter a sua
opinião quanto ao gosto ou não pela mesma, certamente nem todos os romanos a
achariam a mais bela. Porém, há uma simbologia e um valor que não lhe poderá
ser negado. Destacamos não só a policromia, que era comum na época romana, mas
também a couraça do imperador, associado ao topónimo Bracara Augusta, onde está
representada Hispânia e Gália. Por ser uma estátua tão invulgar, acreditamos
que junto a ela deveria constar uma pequena explicação da mesma, de modo a que
não seja conhecia apenas pela sua diferenciação, mas também pelo seu valor.
Talvez, num momento futuro, possa voltar a ser dada a explicação histórica da
imagem de César Augusto junto da mesma, e não apenas na sessão de
esclarecimento que ocorreu na véspera da inauguração. Não questionando a beleza
da mesma, sugerimos que todos olhem para “Augusto Prima Porta” como monumento
de excelência que poderá potencializar a visita aos mais curiosos e enriquecer
a nossa Bracara Augusta. Mas há um ensinamento que esta estátua já nos
concedeu…em cima do pedestal, apresenta-se descalça, num sinal de humildade e
de ligação à terra, contrariando quem se põe em bicos de pé, querendo chegar
mais alto, anunciando a desgraça pela sua colocação. “A César o que é de
César”.