30 de maio de 2017

Crónica "A César o que é de César"




A César o que é de César

Pelo décimo quarto ano consecutivo, Braga voltou a cobrir-se de vermelho e dourado para honrar as suas origens enquanto cidade. Desengane-se aquele que pensa que a Braga Romana é sempre igual, pois cada edição é única.

Nesta edição, melhoria e inovação foram notórias e não terão passado despercebidas a todos aqueles que, ao longo dos anos, têm vindo a participar naquela que é a recriação histórica das origens da cidade. Na nossa opinião, muito mais do que um mercado animado, a Braga Romana é pedagógica. Prova disso é a área pedagógica que, a cada edição, aumenta a oferta e ainda assim parece ser insuficiente, pois há sempre quem queira participar. Este ano, o melhoramento do espaço deu o merecido destaque àquela que é uma das mais importantes áreas do evento. Não faria sentido comemorarmos as nossas origens sem as partilharmos com os mais novos que se mostraram sempre curiosos e animados em conhecer as histórias da cidade augusta. Também a forma como se envolve a comunidade - as associações, as escolas, todos os voluntários - torna a Braga Romana num grande evento pedagógico, pois todos, ou quase, se vão esforçando para aprender um pouco mais sobre a civilização romana. Por exemplo, este ano, com a primeira edição do concurso de estandartes, muitas foram as escolas e associações que realizaram um novo trabalho de pesquisa para poderem participar corretamente. As recriações históricas são também uma interessante aposta para enriquecer a visita de quem anda pelo espaço à descoberta, veja-se por exemplo a presença do IEFP nas Termas Romanas que conseguiu, de um modo muito peculiar, cruzar a história com a atualidade, transmitindo assim o quotidiano romano e também os cursos disponíveis pelo mesmo. Podemos, ainda, abordar as visitas guiadas e o curso de latim, que permitiu descobrir Bracara Augusta, para além daquela que é associada à Braga Romana.

No entanto, sempre que há inovação, há também um risco que se corre, pois poucas são as coisas que ocorrem bem à primeira e que não podem melhorar. Na nossa opinião, agora que já terminou a 14ª edição da Braga Romana, é tempo de refletir sobre a 15ª edição e tentar sempre aperfeiçoa-la. Para a JovemCoop, a Braga Romana já é muito mais do que um evento para a cidade, pois a sua amplitude já a tornou num dos momentos turísticos da cidade. Por esse motivo, deverá também ser pensada para aqueles que a visitam, tendo informações em várias línguas como castelhano/galego, inglês e francês, por exemplo. Não só os flyer’s devem ser traduzidos, como devem existir, nos locais centrais, informações que orientem os visitantes, ou, pelo menos, pessoas capazes de os compreender e de lhes explicar todo o evento. Também por ser uma recriação histórica cada vez maior e mais conceituada, deve continuar a crescer o rigor no evento e nos seus cortejos, evitando óculos de sol, verniz, sapatilhas, ou mesmo o mero desfile de roupas da época. A participação com uma alusão histórica deve ser um desafio colocado à comunidade.


Não poderíamos falar desta edição da Braga Romana sem falarmos de “Augusto Prima Porta”. Reconhecemos que esta representação do imperador César Augusto poderá ser um pouco afastada daquele que é o nosso (pre)conceito de estátua. Contudo, deve ser tida em conta toda a investigação científica existente acerca da mesma. Todos poderão ter a sua opinião quanto ao gosto ou não pela mesma, certamente nem todos os romanos a achariam a mais bela. Porém, há uma simbologia e um valor que não lhe poderá ser negado. Destacamos não só a policromia, que era comum na época romana, mas também a couraça do imperador, associado ao topónimo Bracara Augusta, onde está representada Hispânia e Gália. Por ser uma estátua tão invulgar, acreditamos que junto a ela deveria constar uma pequena explicação da mesma, de modo a que não seja conhecia apenas pela sua diferenciação, mas também pelo seu valor. Talvez, num momento futuro, possa voltar a ser dada a explicação histórica da imagem de César Augusto junto da mesma, e não apenas na sessão de esclarecimento que ocorreu na véspera da inauguração. Não questionando a beleza da mesma, sugerimos que todos olhem para “Augusto Prima Porta” como monumento de excelência que poderá potencializar a visita aos mais curiosos e enriquecer a nossa Bracara Augusta. Mas há um ensinamento que esta estátua já nos concedeu…em cima do pedestal, apresenta-se descalça, num sinal de humildade e de ligação à terra, contrariando quem se põe em bicos de pé, querendo chegar mais alto, anunciando a desgraça pela sua colocação. “A César o que é de César”.

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