in Correio do Minho - 27/5/2014
(Re)viver Bracara Augusta
Nestes
últimos dias o centro de Braga teve uma grande animação. Quem por lá andou
deparou-se com inúmeras figuras mitológicas, com legiões, e com os típicos
habitantes de Bracara Augusta. Tudo isto, porque de 21 a 26
de maio decorreu a décima primeira edição da Braga Romana.
A XI edição
do evento que mais caracteriza a cidade foi a que mais deu que falar. Começando
pelo seu difícil “parto”, devido às condições climáticas, até à nova estrutura
da feira, foram vários os pontos que modificaram a habitual recriação.
No
que se refere às condições climáticas é verdade que a organização pouco podia
fazer, dado a existência de contratos que não são facilmente adiáveis,
assegurando a presença de artesãos e de grupos de animação. No entanto,
parece-nos que como a chuva já se fazia anunciar, e aproveitando que as tendas
eram, na sua maioria, novas, a organização poderia ter pensado numa forma de
impermeabilizar o topo das mesmas, investindo, talvez, em cobrir determinados
espaços comuns.
Quanto
à estrutura do certame, é nossa opinião que levar a Braga Romana para o centro
de Bracara Augusta foi uma excelente iniciativa, pois, deste modo,
toda a recriação se torna mais fiel à realidade da época clássica. Para melhor
dar a conhecer Bracara Augusta foi necessário dar vida a novos espaços
que, infelizmente, não tinham qualquer caracterização a uni-los, dando o
exemplo da Rua D. Afonso Henriques, que deveria ter animação, tal como a Rua D.
Gonçalo Pereira, para uma união entre o Rossio da Sé e os Largos
de S. Paulo e de S. Tiago. Apesar desta ausência decorativa dos espaços, é
de louvar a existência de um mapa da feira, que todos os visitantes poderiam
adquirir na tenda da organização, permitindo, desse modo, o conhecimento
de todos os espaços incluídos na feira e incentivando à visita dos
mesmos.
A
organização de visitas guiadas e a abertura de espaços museológicos durante
todos os dias do mercado romano, foi uma das grandes melhorias do evento
deste ano. Pela primeira vez, a JovemCoop teve oportunidade de dar a
conhecer as ruínas da Domus da Escola Velha da Sé, onde
realizámos visitas guiadas e tivemos a possibilidade de efectuar pequenas
recriações históricas ou encenar momentos do quotidiano de uma domus.
Assim, houve oportunidade de, mais uma vez, aproximarmos Braga dos bracarenses,
e não só, pois este já é um evento procurado por estrangeiros. A prova disso
mesmo é o facto de termos efetuado várias visitas guiadas
na domus em diferentes línguas, com predominância do espanhol. Porém,
acreditamos que uma maior divulgação de alguns espaços possibilitaria
uma maior fruição dos mesmos.
Por
exemplo, muitos devem ter sido os visitantes que não se aperceberam que
a Domus da Escola Velha da Sé era um espaço que se podia visitar, ou
que o Centro de Recursos Educativos da Câmara Municipal estava a
funcionar num largo junto à Sé. Por este motivo, parece-nos
fundamental que, numa próxima edição, exista uma maior divulgação de todos os
espaços visitáveis e dos eventos a realizar. Poder-se-á, por exemplo,
apostar em muppies espalhados pela cidade, em género de mapa, a
assinalar locais a visitar e a realização dos eventos. Acreditamos, ainda, que
seria importante monumentalizar as entradas do local onde de desenvolve o
mercado romano, conferindo maior imponência ao evento. Imaginemos que no largo
de S. João do Souto se recriavam as portas da muralha romana, bem
como na Rua da Misericórdia; E tendo as cidades romanas um Arco
triunfal, porque não adaptar o Arco da Porta Nova, fazendo dele, durante o
período da Braga Romana, um Arco honorífico ao jeito dos Arcos
de Trajano ou Adriano?
Mas,
porque falamos de sinalização e sinalética, convém lembrar que há melhorias
introduzidas na edição de 2014. Não passou despercebida
a sinalética colocada juntos das epígrafes da Sé (a inscrição
à deusa Ísis ou a da refundação da cidade), bem como aquela que foi colocada
para interpretação do conjunto arqueológico da Domus das
Carvalheiras. Torna-se, de igual forma, relembrar a maior cientificidade
dada ao certame, com a realização do colóquio “Valorização do Património
Arqueológico de Braga”, que decorreu no dia 23, no auditório da AGERE,
cuja organização se deve à CMB e à UAUM.
Cumpriu-se
a lógica que há tanto tempo defendemos de dotar a Braga Romana de maior
conhecimento dos vestígios do passado, da sua fruição no presente
e projeção, bem como reflexão, para o futuro.
Deixamos
os nossos parabéns à organização desta Braga Romana, que, apesar de tudo,
arriscou na mudança, e dotou o evento de maior cultura e educação.
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