12 de junho de 2012

Braga: Arqueologia das Grandes Coisas

"Diário do Minho" 10/06/2012

Há poucos dias, no âmbito de uma tertúlia realizada pela altura em que decorria a Braga Romana 2012, levantou-se a questão da valorização do património, do conhecimento que os bracarenses têm da história da sua cidade, da necessidade de participação dos cidadãos e de maior informação patrimonial que ajude a alavancar o turismo e a tornar Braga uma marca de distinção.

Após o início das intervenções no Largo Carlos Amarante e depois de várias ideias e opiniões sobre o que fazer com a estrutura arqueológica colocada a céu aberto, o responsável pelos trabalhos arqueológicos e assessor principal da Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho sentiu a necessidade de clarificar e explicar as intervenções ali realizadas, emitindo juízos de valores bastantes ríspidos.

A nossa primeira surpresa surge com o formato de Carta Aberta (quase um direito de resposta, mas sem o ser) que o responsável redige à opinião pública. Não sendo um artigo de opinião, nem direito de resposta, parece-nos algo formato para atingir as vozes que clamaram a pedir procedimentos mais ajuízados quanto ao destino a dar aos vestígios arqueológicos.

Após palavras um tanto ácidas e corrosivas, que parecem querer atingir e menorizar a opinião pública, o muito experiente arqueólogo e com várias provas dadas no campo arqueológico, prossegue com as explicações dos resultados prévios da intervenção.

Ora, é aqui que a opinião pública ganha destaque e a sua "primeira vitória", pois onde apenas as pessoas achavam que só se tinha encontrado um aqueduto, após tentativa de aferição de resultados, o signatário do texto afirma que foram exumadas mais estruturas - os alicerces do antigo Convento dos Remédios, bem como estruturas fúnebres identificadas como sepulturas. Se a opinião pública não tem feito esta pressão positiva, provavelmente não teríamos conhecimento, pelo menos em tempo útil, dos resultados da intervenção. Doutra forma, talvez os resultados surgissem muito lá para a frente no tempo, ou talvez nunca viessem a público, pois, pelos vistos não são considerados relevantes.

Também é uma pequena vitória da opinião pública a definição dos critérios que levam à preservação, destruição, musealização de uma estrutura arqueológica. Esta equipa entende que a estrutura, datada do Séc. XX não "tenha qualquer valor patrimonial", por isso pode ser destruída.
E aqui surge outra questão: os Arqueólogos que tanto pedem reservas arqueológicas para o futuro e defendem que se deve deixar património para tempos que se esperam com outra sensibilidade patrimonial, hoje avaliam o desinteresse de uma estrutura e são coniventes na sua destruição.
E se daqui a 50, 100, 150 anos alguém, com outra sensibilidade achar que aquele património afinal tinha interesse? É que não estamos a falar de um caso que destruição por falta de opção, porque é plenamento possível articular as novas estruturas com zonas adjacentes, sem danificar aquela ou outra estrutura. Se ficar mais caro, é porque a arqueologia nunca foi pensada, porque num sério caderno de encargos deveria prever esta hipótese.

E causa impacto, e uma certa impressão, que se desvie a discussão do seu eixo (a intervenção do Largo Carlos Amarante) para grandes jazidas arqueológicas como o Teatro Romano, a Falperra, Dume e, bem mais recentemente, as Sete Fontes!

Primeiro, isso é querer comparar duas realidades distintas, e já devidamente identificadas, de forma igual. Não se vê este critério em questões bem mais comuns...Duas sepulturas no Largo Carlos Amarante, três na Senhora-a-Branca e algumas na zona da Igreja de S. Victor, foram desvalorizadas como estrutura musealizável ou preservada fisicamente. Já as do Liberdade Street Fashion foram intervencionadas e passivel de musealização, mas as do prolongamento do Túnel e zona entre estes dois equipamentos não! Somando tudo isto temos UMA só área de enterramento e práticas funerárias, mas que têm critérios distintos. E aqui sim, fala-se de uma só realidade.

Mas duas sepulturas, um conjunto de alicerces e estruturas ligadas à água, no Largo Carlos Amarante são vistas como "menores" e sem interesse patrimonial! Porquê?

Só interessa o Teatro, a Falperra, Dume e Sete Fontes porque são áreas com maior potencial de intervenção, logo passíveis de maiores orçamentos? Esperemos que não seja este o critério, porque então aí, a arqueologia de Braga está condenada a ser a Arqueoogia das Grandes Coisas, desprezando um elemento ou conjunto patrimonial que, de forma isolada, não terá força para se proteger e permitir-se perpetuar na memória colectiva dos bracarenses.

Apesar de haver uma responsabilidade científica, este esclarecimento deveria ter sido feito pelos Serviços Municipais, a não ser que a CMB tenha delegado essa tarefa na UAUM, pois, acima de tudo, o responsável perante a cidade e dono de obra é a autarquia.

De realçar que o texto termina com o apelo aos "bracarenses que amam a sua cidade, viva e dinâmica com património de excelência"...são estes bracarenses que amam a cidade que questionam, que têm curiosidade e que suscitam a opinião pública; os bracarenses da cidade viva e dinâmica, são estes que se mobilizam por perceber e dar o seu contributo para perpetuar a memória do passado; os bracarenses com património de excelência querem mais património e mais acuidade no seu tratamento e preservação, porque nitidamente quase 35 anos depois, em plena Bracara Augusta apenas haver 4 sítios musealizados disponiveis ao público e dois de cariz privado é MUITO POUCO! Por isso se pede mais...e todos juntos podemos contribuir para tal.

Até porque ninguém questionou a qualidade dos procedimentos, mas sim o fim a dar ao produto das intervenções. Pena é que a massa pública seja menosprezada, numa tentativa de humilhação e subalternização. Afinal, qual é o dever das instituições públicas? Não é o de estarem disponiveis ao público? Por isso não se percebe o porquê de declarações tão injuriosas e que rogam a prática do silêncio. Nós pretendemos que se gerem opiniões,para se chegar a conclusões.Queremos o direito à cidade e a querer conhecer a nossa cidade...não venham com estas atitudes repressivas para depois dizer em tertúlias que os bracarenses não conhecem a sua história. Ora pois, se nos impedem, torna-se dificil!


1 comentário:

Miguel Marques disse...

Ricardo... o discurso do Arqueologo Senior, Senhor Director Cientifico e, a partir de amanha Doutor por extenso... é facilmente desmontável... canalizações do inicio do séc. XX podem ser valorizadas... tal como são por exemplo edificios do incio do século. Uma obra de arte não deixa de ser obra de arte porque foi executada ha 1 ano ou tem mais ou menos valor consoante a idade. os vetsigios estruturais humanos tem valor que lhes é dado pelas diferentes abordagens cientificas que cada pessoa tem. Se eu for um arqueologo que estuda as questões relacionadas com a evolução dos sistemas hidraulicos em ambito urbano por exemplo posso considerar esse patrimonio como bastante relevante. Se eu como arqueologo quizer estudar as dinamicas sociais e industriais de Braga a partir de 1850 esses aquedutos podem ter uma relevancia importante para o meu estudo. O que quero dizer é q o facto de um vestigios ter ou nao relevancia patrimonial depende do observador... é um factor subjectivo e nao objectivo. Para mim por exemplo pode fazer mais sentido valorizar esse aqueduto do que os vestigios romanos.

O que implicitamente Luis Fontes faz neste artigo do DM é procurar passar um atestado de imcompetencia à JovemCoop e à ASPA. Tal nao é novidade nesta pessoa nem na UAUM. esta instituição julga-se acima de qualquer suspeita... impoluta e incorrupta.

Uma coisa gostava era de saber como foi executado o ajuste directo entre a CM Braga e a UAUM... quantas instituições foram convidadas para apresentar preço? Eu nao sei mas posso ja responder... foi apenas a UAUM... iso nao é defender o contribuinte bracarense... isto é rouba lo.

Pior é que agora toda a gente sabe o seguinte... se quizer fazer obra em Braga bastate contratar a UAUM que eles resolvem a questao... eu ja tinha dito isto aquando da questao da pousada da juventude... lembram-se das diferenças de opiniao de um mes para o outro de luis fontes?

isto era so uma questao de tempo ate a parecer outra... Ricardo tens que desmistificar isto...