6 de junho de 2012

Testemunhos da Memória - Uma Ideia!


A propósito da valorização do património, parece pertinente discutir os critérios que conduzem à preservação e musealização, apenas à preservação e à preservação pelo registo e consequente destruição física.

Faltam apurar estes critérios para sabermos porque motivo tantos vestígios arqueológicos são dados como de desinteresse patrimonial, científico ou em prato deficitário na balança do progresso.

O caso da Rua de S. Vicente, segundo os especialistas, parece diferente do do Largo Carlos Amarante; a necrópole da Senhora-a-Branca parece distinta do que se encontrou no Liberdade Street Fashion, mas semelhante à encontrada no prolongamento do túnel da Avenida, isto é:
-Na galeria de S. Vicente, dizem os especialistas, corria uma tubagem de ferro, apoiada em calços de pedra e cuja parede esquerda (de quem vê de montante) seria aproveitamento de uma conduta de pedra esventrada proveniente das Sete Fontes. Disseram que aquela condução de pedra não era a original e estava apenas a construir, de forma quase aleatória a parede da galeria. Faltou explicar a razão de se aparelhar as manilhas de granito e de estarem argamassadas nos intestícios, pois a parede do lado direito estava construída de forma irrgular e sem ligantes; Mas fazendo fé nos arqueólogos, a conduta de pedra não tinha interesse e o executivo municipal em funções mandou as obras avançarem - preservou-se, mas ficou inacessível ao público;

No Largo Carlos Amarante encontra-se um aqueduto - cuja datação para já desconhecemos - e é arqueologicamente intervencionado, registado e destruído. Aqui houve preservação pelo registo; Mas deixar vestígios e conhecimento para o grande público, nada!


Na Senhora-a-Branca descobrem-se sepulturas associadas à Via Romana XVII, algo que seria expectável após se saber que desde o Largo Carlos Amarante até à Igreja de S. Victor se descobriram, anteriormente, estes vestígios de enterramento. Na Senhora-a-Branca e no prolongamento do Túnel preservou-se o registo e no Liberdade Street Fashion preservaram-se os vestígios, aguardando a sua musealização e fruição pública! Parece que só a iniciativa privada quer valorizar os vestígios arqueológicos.

Numa zona pedonal, cujo pavimento será feito, maioritariamente me granito, depois da preservação pelo registo, porque não a preservação da memória, através de um acto tão simples quanto replicar um desenho, um padrão, um lettering no pavimento?

Basta verificar o caso de Guimarães e pensar que as pessoas automaticamente associam um antigo local de interesse a partir de uma informação simples desenhada no chão. Ou seja, isto já nem é ser criativo, é ser atento às boas práticas de outras cidades. Em Guimarães, os transeuntes facilmente reconhecem as portas medievais pois estas estão desenhadas no pavimento, evocando a memória do passado da cidade! E convivem no centro da cidade com vestígios do desenvolvimento, por isso não há incompatibilidades...há é vontades!

No Largo Carlos Amarante basta desenhar a conduta de água e os tampos de pedra, dando ideia do seu alinhamento; ideia semelhante pode ser replicada na rua de S.Vicente; na Senhora-a-Branca poder-se-ia desenhar as sepulturas ou fazer um pequeno painel informativo sobre a Via XVII e os enterramentos. É que não basta um mini-miliário em aço-corten a dizer VIA XVII Bracara Augusta/Asturica Augusta para as pessoas identificarem uma Via Romana. Aliás, duas histórias simples e rápidas: A primeira, uma senhora que confundiu o mini-miliário com uma boca de incêndio; outra, contada pelo próprio Professor Sande Lemos que sentado num muro em Gualtar, não se apercebeu que dava com os pés num desses mini-miliários!

À consideração dos nossos leitores!


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