(Re)Pensar o Futuro de Braga - (parte 2)
Se na nossa última crónica refletimos sobre a necessidade de planear o futuro e o desenvolvimento da cidade, uma vez que após a tragédia dos incêndios de 2017, pouco ou nada foi feito, hoje damos continuidade à
nossa reflexão devido às obras que são feitas em pleno centro da cidade.
Reconhecemos que poderá não ser fácil planear intervenções em algumas zonas da cidade, mas é por isso que esse trabalho deve ser pensado e planeado não só por especialistas qualificados, mas também pelos utilizadores do espaço público. Afinal, quem melhor do que um utilizador diário para indicar quais as necessidades de melhoria do local?
No entanto, não é de hoje que o Município de Braga decide realizar intervenções na cidade sem estudar todas as alternativas possíveis e, principalmente, sem ouvir os cidadãos.
Falamos de obras que passam pelo abate massivo de árvores para dar lugar a parques de estacionamento. Falamos de trotinetes aparcadas em cima dos passeios e passeios esburacados ou cujo pavimento foi mal assente e está levantado e irregular. Falamos dos destinos de edifícios classificados como a Fábrica Confiança, ou o Recolhimento das Convertidas. Falamos do desmantelamento de Parques Infantis em zonas habitacionais.
Em suma, falamos de uma cidade cada vez mais coberta de betão e menos espaços verdes, espaços de lazer que proporcionam qualidade de vida aos cidadãos.
Apesar de estarmos a sair de um período onde enfrentamos uma pandemia, onde todos os cidadãos se viram fechados em casa e obrigados a parar e a valorizar a qualidade de vida, pouco é o que trazemos de exemplo.
O planeamento urbano é fundamental ser pensado como um todo, pois uma cidade funciona em sinergia e não por pequenos retalhos. Devemos pensar no futuro que queremos para a nossa cidade, e se já foi bom viver em Braga, parece que nos dias que ocorrem há muitos bracarenses insatisfeitos, cujos argumentos refletem uma cidade que pensa. Significa que vivemos numa cidade onde os seus habitantes se importam e querem participar na vida política, de forma a fazer de Braga uma cidade melhor.
Contudo, tal não acontece, pois os nossos representantes ou apenas informam das decisões já tomadas, ou nem isso fazem, não se mostrando um município disponível para o diálogo.
Pensemos nas mais recentes obras no centro da cidade, na rua 25 de Abril. Foi com muita surpresa que, quem por ali passa, percebeu que a calçada portuguesa que caracterizava os passeios que seguiam da Avenida da Liberdade, foram substituídos por outro material em nada semelhante. Ora a calçada portuguesa caracteriza grande parte dos passeios da nossa cidade, porém, está a ser substituída alegando uma maior segurança e um
maior conforto para os peões. Para além do choque da alteração do material, existe, ainda, a questão completamente inestética da união entre a calçada que segue nos passeios da Avenida da Liberdade, com o
novo pavimento da rua 25 de Abril.
Acreditamos que a solução não passa pela alteração da calçada portuguesa, mas sim por uma maior manutenção da mesma. Talvez tenha sido feita a escolha mais fácil e não a escolha ideal, ou não tenham sido
pensadas todas as soluções possíveis.
São urgentes intervenções no planeamento urbanístico de Braga, para que a cidade possa atuar não só para prevenir possíveis tragédias naturais, mas também para melhorar os seus acessos.
Somos uma cidade com mais de dois mil anos de história, o que exige uma importante manutenção quer nas estradas, quer nos passeios. Mas não podemos, também, esquecer que estamos a evoluir e que a criação de espaços verdes e de solo permeável é fundamental para uma maior qualidade de vida dos bracarenses. Afinal, basta um dia mais chuvoso para as estradas da cidade ficarem inundadas e bloquearem toda a circulação. Sabemos que pode ser complexo, mas pensar e intervir no quotidiano da cidade é assim mesmo, e são muitas as variantes que se devem ter em conta.
Pensar no futuro de Braga é fundamental, orientando os eixos políticos para o benefício das gerações de amanhã e fazê-lo em conjunto com os cidadãos seria sempre a melhor opção, porque isso sim, seria sinal de estarmos todos “juntos por Braga”.