Bracarenses perdem a Confiança?
Imagine que tem várias casas. Se
lhe propusessem que vendesse uma delas por quatro milhões de euros, certamente
aceitaria a proposta. No entanto, se, de seguida, lhe dissessem que teria de
investir esses quatro milhões a requalificar a casa do seu vizinho, continuaria
a fazer sentido? Perderia o seu imóvel, para investir em local alheio?
Acreditamos que, por muito boa
pessoa que seja, ninguém aceitaria tal proposta. Então, porque é que vamos
permitir que a Câmara Municipal de Braga o faça de ânimo leve? Foram estas, as
declarações recentes da CMB, quando Ricardo Rio assume o investimento no S.
Geraldo, um edifício que pertence à Arquidiocese de Braga, e vem agora declarar
a venda da Fábrica Confiança, desculpando-se com a falta de verbas.
Fazendo uma breve reflexão sobre
os últimos anos de história deste imóvel, que data de 1894, é quase imediata a
lembrança das discussões públicas aquando a sua aquisição por parte da CMB. O
facto de ser o único edifício da “Indústria Bracarense”, que chegou até aos
nossos dias, foi uma das principais razões para a sua aquisição. Nessa altura o
actual edil bracarense, que fazia parte da oposição, valorizou e apoiou também
a aquisição da Saboaria e Perfumaria Confiança, dando lugar a uma expropriação
do imóvel para fins culturais. Perspectivavam-se grandes ideias para a
requalificação desta, muitos cidadãos deixavam-se inspirar e apresentavam as
suas ideias num concurso público, que teve resultados apresentados. Cidadãos
esses que hoje se sentem defraudados, pois dedicaram parte do seu tempo, e do
seu trabalho, a uma causa, a preservação do imóvel. Hoje apercebem-se que tudo
não passou de uma ilusão…uma miragem. Este foi o sentimento expresso pelos
diversos concorrentes que marcaram presença no debate, organizado pela Junta de
Freguesia de S. Victor, que tinha como mote “Qual o futuro para a Confiança?”.
Foram muitos os bracarenses que
se mostraram interessados na salvaguarda da Confiança. Arriscaríamos dizer que
eram tantos quantos aqueles que, em 2014, se juntaram ao município para
comemorar os seus 120 anos, abrindo as portas da Saboaria e Perfumaria
Confiança, homenageando os seus trabalhadores. Terá a Confiança perdido a sua
simbologia, nos últimos quatro anos? Ou estaremos antes a falar de uma
alienação que vai muito além de um imóvel e passará antes pela alienação dos
deveres cívicos?
Talvez tivéssemos resposta, a
esta ou outras questões, se a CMB tivesse comparecido no debate que classificou
como “despropositado”.
Apesar de estarmos sem respostas,
a JovemCoop, assim como a Junta de Freguesia de S. Victor, não irá baixar os
braços e deixar a Confiança cair em esquecimento. Enquanto for possível, iremos
valorizar o imóvel, levando-o até às pessoas, como aconteceu no desfile das
freguesias integrado na Semana do Mundo Rural, onde, desafiados pela Junta
representámos o mundo fabril e o universo industrial que existia em S. Victor.
A Junta de Freguesia de S. Victor, durante o debate no qual foi realçado o
verdadeiro valor da Confiança, disponibilizou ainda um abaixo assinado a todos
os interessados, que irá fazer chegar ao
nosso presidente da Câmara.
Esperamos que todas as acções
sejam tidas em consideração, pois só com a força do povo é que os bracarenses
não perderão a Fábrica, porque a confiança, essa já foi quebrada.
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