"Correio do Minho" 03/02/2015
Um olhar
convertido
Certamente já ouviu falar da Casa
das Convertidas ou do Recolhimento de Santa Maria Madalena. Da nossa parte,
este Imóvel de Interesse Público, já foi várias vezes alvo de notícias,
infelizmente, nem sempre pelos melhores motivos. No entanto, hoje, a reflexão
que desejamos fazer leva-nos a escrever sobre as Convertidas sobre um excelente
motivo.
A Casa das Convertidas é um
importante marco da Avenida Central desde 1720, e apesar de ter as suas portas
abertas desde 1722 até à década de 90, muitos eram aqueles que por lá passavam
e nem se apercebiam deste edifício, que tanto enriquece uma das mais famosas
avenidas bracarenses. Utilizamos o pretérito imperfeito, pois quem passa hoje
pelo Recolhimento dificilmente não repara na sua fachada, agora repleta de
andaimes. Esses andaimes são, para nós, o cumprimento de promessas desde há
muito feitas; são a prova física de que já são muitos aqueles que se preocupam
com as Convertidas e o seu valor histórico. As obras que ocorrem nas Convertidas
podem não ser o seu restauro completo com um destino final concreto para o
edifício, mas são obras de prevenção, tentando evitar, desta forma, que o
edifício se continue a degradar.
Quem visitou este Recolhimento
nos últimos anos, notou um elevado estado de degradação do mesmo. Se há uns
anos, nas primeiras visitas realizadas pela JovemCoop, era possível visitar o
primeiro e o segundo piso, piso onde se encontram as celas/ quartos e o acesso
ao coro alto da Capela, neste último ano o acesso ao segundo piso já não era
permitido devido à enorme fragilidade do soalho. Os sinais de degradação eram
notórios e muito devido ao mau estado do telhado que não protegia o edifício
das águas pluviais. Essa acelerada degradação era também visível na capela, um
belíssimo espaço da arte barroca, com um altar em talha dourada e tetos
superiormente pintados.
Numa tentativa de travar o
acelerado estado de degradação, estas pequenas obras de intervenção têm como
principal objetivo preservar a estrutura do edifício, o que para nós já é sinal
de algum avanço. Esta intervenção é, no nosso modo de ver, sinal de que muitas
consciências já despertaram para o valor único deste imóvel e para a urgente
necessidade de o preservar e de lhe dar vida.
Contudo, apesar deste passo em
direcção à preservação, engana-se quem pensa que com esta pequena intervenção as
Convertidas podem manter-se desertas por mais uns anos. É urgente a decisão de
um melhor futuro para o Recolhimento de Santa Maria Madalena. Na ótica da
JovemCoop, uma casa que desde 1722 viveu repleta de pessoas, inicialmente com
mulheres que se queriam (re)converter e mais tarde como os utentes do lar que
lá funcionou, hoje não pode ficar sem vida. Ver este Recolhimento ganhar vida é
um dos grandes desejos da JovemCoop. É que, na verdade, faltar designar um
programa para o interior da Casa. Se o edifício, após as intervenções no
telhado e na fachada, ficar mais algumas décadas fechado, voltará a entrar numa
espiral de degradação, não dignificando a sua função, nem o investimento agora
efetuado. Pode a CMB assegurar, mediante protocolo ou comodato, a utilização da
Casa das Convertidas, ou será uma espécie de presente envenenado para os cofres
municipais? E sendo o Ministério da Administração Interna o proprietário, não
deveria assegurar o futuro funcional deste monumento?
Estes são apenas alguns exemplos de um futuro promissor, que esperamos ser o da Casa das Convertidas. Até lá, manteremos o nosso estado de alerta para a preservação do Nosso Património, o património que é a imagem de um marco histórico, identidade de todos os bracarenses. Por isso, cabe-lhe também a si, caro leitor, estar atendo e salvaguardar o que é de todos.
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