Onde
está a Confiança?
Fundada em 1894, a Saboaria e
Perfumaria Confiança é o único edifício da “Era da Industrialização” da cidade
que chega até nós, sobrevivendo às mais diversas controvérsias que recentemente
assombram a vida daquela fábrica. Hoje, com 122 anos de existência, o imponente
imóvel volta a ver o seu futuro hipotecado.
Muito se tem falado acerca de uma
nova venda do imóvel que foi, outrora, a famosa fábrica Confiança. Falamos numa
nova venda, pois há cerca de cinco anos atrás, a compra do edifício da fábrica
era um assunto na ordem do dia da Câmara Municipal de Braga. Muito se debateu
sobre a aquisição deste imóvel, muitas vozes se ouviram, algumas a favor da
apropriação do edifício por parte da Câmara, outras, um pouco mais desconfiadas,
pois era já um imóvel muito danificado e a precisar de sérios investimentos.
Contudo, pensando na salvaguarda
do único símbolo existente da indústria bracarense, a Câmara Municipal optou
por realizar o investimento e adquirir a fábrica. Será então correto privatizar
um imóvel que tão dificilmente chegou à esfera municipal?
Aquando a aquisição da fábrica, a
Câmara de Braga lançou um concurso de ideias, desafiando todos os bracarenses a
reflectirem sobre as diversas utilidades possíveis do edifício. O concurso foi
um sucesso, pois chegaram ao município cerca de 80 projetos, dos quais 4 foram
finalistas e apresentados à comunidade. Mas o que foi feito desses projetos?
Realizou-se um concurso de ideias que nunca se colocou em prática, e que não se
ambiciona realizar? Não nos parece sensato realizar um concurso de ideias que
vai sendo esquecido ao longo dos anos, afinal houve não só um investimento
monetário, atribuindo prémios ao concurso, mas também um investimento
intelectual daqueles que ousaram projectar uma parte do futuro da cidade e que
veem agora o seu trabalho desvalorizado.
Na opinião da JovemCoop, a cidade
devia ambicionar mais do edifício que faz a ligação do centro histórico com a
cidade académica, não só pela sua localização, mas também pelo seu espectro de
larga índole. É certo que Braga tem já uma vasta iniciativa cultural, mas consolidado
que está o calendário de eventos, torna-se necessário criar bases para acolher
novas dimensões culturais, projetando o futuro à escala contemporânea. A
Fábrica Confiança poderia assim albergar a Casa das Artes de Braga, colmatando
assim uma falha da vida cultural da cidade. Afinal, as paredes da Saboaria e
Perfumaria Confiança sustentam já 122 anos de história que pertencem a todos os
bracarenses, principalmente àqueles que trabalharam na fábrica, quer na
confecção dos sabonetes, quer nos laboratórios dos perfumes que saíam da Rua
Nova de Santa Cruz directamente para o mundo.
Reconhecemos que para qualquer
projeto é necessário haver disponibilidade financeira, contudo, caso estes
recursos não estejam disponíveis todos de uma só vez, o desafio pode passar por
alocar as verbas disponíveis no orçamento municipal e ir requalificando por
alas ou por etapas. O que não aceitamos é que não haja a vontade, nem a ousadia,
de pensar mais, de querer mais para o que resta da indústria bracarense.
Vamos vender uma parte da
história da cidade, em pleno século XXI, num século onde se fala em preservar,
restaurar e onde se condenam atitudes antigas que no fundo serão semelhantes?
Está na hora de reflectir antes de tomar atitudes, está na hora de pensar no
futuro da cidade e de perceber se as prioridades estão realmente estabelecidas.
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