30 de abril de 2019

Crónica "Eu voto, ele vota, nós votamos, e tu?"



Eu voto, ele vota, nós votamos, e tu?

Nos dias de hoje expressar publicamente uma opinião ou o acto de votar são direitos dados como adquiridos por toda a população. No entanto, nem sempre foi assim.

Se recuarmos meio século, vemos uma sociedade oprimida, regida por uma ditadura que decide a quem  deve dar poder, que define quem pode pensar, mas acima de tudo que proíbe o direito à identidade a todos os cidadãos. Desde pequenos todos eram treinados para pensar da mesma forma, principalmente a mulher, que deveria ser submissa, que não tinha o direito a opinião e era tomada como ignorante.

Se hoje não é assim, tudo se deve à conhecida Revolução dos Cravos, que comemorou os seus 45 anos no passado dia 25 de Abril. Um dia em que Portugal se encheu de coragem e, através dos seus militares, abriu os seus pulmões para gritar LIBERDADE! No entanto, apesar do ano marcante de 1974, tudo levou o seu tempo a mudar e a tornar-se na realidade que hoje conhecemos. Por esse motivo é fundamental passar aos jovens de hoje a real importância de termos tido uma revolução, que nos abriu portas e nos trouxe direitos que hoje nos parecem fundamentais. O 25 de Abril é comemorado diariamente por cada um de nós. Cada vez que expressamos publicamente as nossas opiniões, cada vez que fazemos uma escolha nossa, qualquer que seja, estamos a comemorar a revolução dos cravos e a honra-la com o maior direito que ela nos podia dar, o direito a uma identidade individual.

Votar foi também um direito pelo qual cidadãos tiveram de lutar, sobretudo as mulheres! O direito ao voto significa uma escolha, significa uma atribuição de opinião individual, dá-nos consideração e valor, mas, acima de tudo, votar dá-nos o direito a uma participação direta na escolha de dirigentes ou representantes. Hoje em dia, são imensas as decisões que são tomadas recorrendo ao voto, principalmente a nível político.

Sendo VOTAR um verbo repleto de significado, não deveríamos nós viver numa sociedade mais participativa? Desde 1974 que as taxas de abstenção têm vindo a aumentar atingindo valores de mais de 50%. Estarão os abstencionistas conscientes do verdadeiro significado da abstenção?
Abster é como ignorar o direito de votar pelo qual tantos lutaram. Somos livres de exercer ou não o direito ao voto, no entanto cada vez que nos dirigimos às urnas somos também livres de qualquer decisão e voto, seja ele, branco, nulo ou partidário. É essa a decisão que conta no final; é por essa manifestação de voto que todos esperamos para eleger os nossos representantes. Abster é, simplesmente, ignorar uma decisão que deve ser de todos e passa-la para as mãos de outros. Não estamos aqui para defender qualquer partido político, mas sim sensibilizar para a importância do ato de VOTAR.

É fundamental que as forças políticas se juntem para combater a abstenção, sobretudo porque ela se faz sentir mais junto da camada mais jovem, que, por vezes, se vê distanciada da política e acaba por demonstrar o seu desinteresse não exercendo o direito ao voto. É necessário que as várias forças políticas se unam para consciencializar os jovens para uma política participativa, de todos e para todos, sendo essa sim a verdadeira democracia. Só assim iremos verdadeiramente honrar a revolução e fazer valer a nossa identidade.

Refletir sobre a abstenção é essencial e porque não fazê-lo agora, mesmo antes de entrarmos em mês de eleições europeias? Faça como nós, dirija-se às urnas e faça valer o seu direito. 

2 de abril de 2019

Crónica "A Semana Santa de Braga"




A Semana Santa de Braga

Estamos a viver o tempo da Quaresma e, sendo ou não crente e/ou religioso, esta é uma altura culturalmente rica na nossa cidade, que se pinta de roxo.

Durante os mais de 40 dias que separam o Carnaval da Páscoa, ocorre o Lausperene Quaresmal onde mais de 20 igrejas abrem as suas portas, mostrando o que de mais valioso e bonito podem ter. Todas bem ornamentadas, muitas dessas igrejas só abrem as suas tribunas neste momento do ano, o que faz com que esta seja uma oportunidade única de se apreciar peças ímpares do nosso património.
A última semana destes quarenta dias, é a chamada Semana Santa, e a nossa já é particularmente famosa. Como já vem sendo hábito, o programa da Semana Santa de Braga é bastante diversificado podendo, assim, chegar aos mais variados públicos. Uma consequência de tamanha oferta é o aumento turístico que se sente na cidade que, especialmente nesta época, faz jus a ser a “Roma Portuguesa”. Contudo, a semana tem como ponto alto as 3 procissões que enchem as ruas do centro histórico nas noites de quarta, quinta e sexta-feira.

No dia 17 de abril sai da Igreja de S. Victor o cortejo bíblico “Vós Sereis o Meu Povo” popularmente conhecida como “Procissão da Nossa Senhora da Burrinha”. Retomada em 1998, esta é a mais recente das 3 procissões, e conta a história da Salvação, na qual se destaca a fuga para Egipto, onde a imagem da Nossa Senhora vai numa burrinha, criando assim a expressão popular da procissão da “Burrinha”.

Nos dias 18 e 19 de abril, percorrem as ruas da cidade as procissões “Ecce Homo – Eis o Senhor” e a Procissão do “Enterro do Senhor”. Todas estas procissões, além de serem um ponto culturalmente marcante na semana, são também um exemplar momento da participação dos cidadãos, começando pelos que integram as procissões, até aos que vão ver, pela fé ou pela curiosidade, são os bracarenses, juntamente com todas as entidades envolventes, que fazem com que estas tradições do século XVII cheguem até aos dias de hoje.

Para além dos bracarenses, há cada vez mais turistas que vêm conhecer de perto as tradições da Semana Santa de Braga, o que faz com que tão importante como manter as tradições, seja estarmos preparados e sabermos receber todas essas pessoas. Somos o segundo “Melhor Destino Europeu de 2019” e esse título além de prestigioso é também uma enorme responsabilidade.

A Semana Santa é um dos períodos de grande ocupação hoteleira na cidade, que por vezes parece não conseguir corresponder às expectativas. No entanto, é preciso realizar um plano organizado para o crescimento hoteleiro na cidade, e não apenas permitir a construção de edifícios hoteleiros sem ter mãos a medir, apenas por estes incluírem o restauro de alguns edifícios centrais. É necessário ponderar projetos e analisar todas as opções possíveis. A localização, a volumetria, o choque paisagístico são alguns dos factores que devem ser tomados em consideração, pois não vale tudo apenas para termos mais investimentos hoteleiros. Afinal, se somos merecedores dos prémios é também devido à beleza do nosso centro histórico que deve ser preservado e não apenas alterado conforme seja conveniente. Não estamos contra o crescimento hoteleiro da cidade, apenas esperamos que a Câmara Municipal tenha um plano organizado, e que não valide projetos devido a uma necessidade que a cidade tem vindo a sentir. Estamos num período de reflexão, porque não reflectir sobre este crescimento também?