"Correio do Minho" 02/10/2012
As Modas de Braga
O Centro de Braga esteve em grande
agitação, por estes dias, com várias iniciativas de destaque. A surpreendente
“Moda em Movimento” estendeu passerelles pelas ruas comerciais e parou todos
aqueles que por ali passavam. Numa atitude inovadora, a Associação Comercial de
Braga (ACB) investiu na promoção do comércio a partir do desfile de modelos em
frente aos estabelecimentos aderentes. Esta excelente ideia permitiu relançar o
conceito de que as ruas do Centro histórico têm capacidade para ser um “centro
comercial ao ar-livre”, associando ruas antigas ao melhor da moda local. A ACB
merece um louvor por se empenhar na promoção dos agentes comerciais locais,
defendo o melhor para a revitalização do tecido comercial e diligenciando atividades
atrativas.
Celebrando o Dia Mundial do Turismo, a
Câmara Municipal de Braga (CMB) realizou a Feira do Artesanato à qual associou
a IV Feira à Moda Antiga e das Lavradeiras, recriando um quotidiano
cronologicamente não muito distante, mas socialmente já muito distinto. Foi
bonito reviver os usos e os costumes antigos, desde as danças, passando pelas
bancas recheadas de produtos da terra. A par desta feira, a CMB realizou o
Cortejo das Freguesias, possibilitando que várias das 62 autarquias pudessem
mostrar o que melhor as caracteriza e evidencia. Numa altura em que se discute a reforma administrativa das autarquias locais, e quando o Município de Braga contesta a proposta mas recusa avançar para qualquer solução (ou, quanto muito, para ações de auscultação e sensibilização da população) sente-se, neste cortejo, uma tentativa de dizer que as freguesias estão vivas, são dinâmicas e não merecem ser extintas. Os cidadãos de Braga aplaudiram a iniciativa. Os mais jovens ficaram a perceber como a sociedade e a cidade muito se transformaram nestas últimas décadas e os mais experimentados relembraram os tempos antigos (uns com mais saudades do que outros, é certo).
Um turista, que tenha assistido ao cortejo, poderia entender que Braga tem uma predominância não inovadora, pois muitas foram as freguesias que se apresentaram com recriações da vindima, da desfolhada ou a desfiar linho, com processos ancestrais. Raras foram as freguesias que fizeram questão de mostrar que além do passado, há um desenvolvimento emergente no seu território e que tão importante como as materialidades do passado é a perspetiva do futuro. Seria uma excelente altura para todas, a uma só voz, mostrarem as suas potencialidades e darem a perceber por que razões são distintas e não extintas.
A “moda” do antigamente sobrepôs-se ao presente e ao futuro e aquelas que se apresentaram ao desfile não mostraram que reveem no passado uma estratégia de desenvolvimento turístico para o futuro (sobretudo quando o cortejo estava inserido no Dia Mundial do Turismo).
Para reflexão do leitor: A propósito de “modas”, 3 freguesias recriaram a vivência dos seus povoados da Idade do Ferro, onde Esporões mostra um trabalho bastante desenvolvido e organizado. A freguesia de Lamas recriou a vivência em torno do recinto funerário da Mamoa do período Neolítico e Arentim desfilou uma recriação medieval. Parece irónico que, numa cidade que se diz de herança romana, nenhuma das freguesias, sobretudo as do centro histórico, se tenha apresentado aludindo aos vestígios patrimoniais ou históricos desta civilização que tanto marcou a morfologia da nossa cidade. Além do mais, não deixa de ser curioso como a História e o Património são cartão-de-visita das freguesias, numa cidade que não apresenta uma estratégia concertada para salvaguarda dos seus monumentos, nem tão pouco uma estratégia unificada para a sua promoção turística.
Crónica Publicada em: http://www.correiodominho.com/cronicas.php?id=4358
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