"Correio do Minho" 01/11/2011
PLANEAR BRAGA PARA EVITAR “O FIM DO MUNDO”!
Se o meu amigo leitor está a ler esta crónica, então o mundo não acabou no passado dia 21, conforme Harold Camping havia vaticinado. Mas acredito que muitos portugueses, em geral e os bracarenses, em particular, tenham achado que o fim do mundo estava próximo, aquando das longas chuvadas do dia 26.
A cidade de Braga ficou “mergulhada” no caos e assistimos a infindáveis filas de trânsito, onde ambulâncias furavam com muita dificuldade e pais, com filhos no carro, se viam desesperados para acalmar os seus rebentos.
Se o mau tempo tem destas contrariedades e não se pode assacar responsabilidades a S. Pedro, certo é que os efeitos das intempéries poderiam ser minimizados se a nossa cidade tivesse crescido a um ritmo que permitisse aplicar, de forma correcta, os instrumentos de Ordenamento e Planeamento (não fazendo destas meras figuras ilustrativas).
Na verdade, hoje pagamos o erro de se ter deixado construir imóveis nos leitos de cheia do Rio Este (são corredores de protecção que deveriam estar livres para serem ocupados quando o caudal do rio sobre). Torna-se claro que estando estes leitos ocupados, o rio invade-os de igual forma, pelo que causa estragos incalculáveis. Se é agradável morar em cima do rio? Acredito que deve ser interessante, mas se se devia ter permitido? Creio que hoje todos os moradores afectados estarão de acordo que não é a melhor opção. Afinal, se o Homem invade racionalmente o território da natureza, certo é que a natureza não será tão clarividente em não invadir algo que é seu…por natureza!
É, ainda, recorrente, em dias de chuva, os túneis da cidade de Braga ficarem alagados e intransitáveis. Ora isto dá-se devido às acentuadas pendentes destas estruturas, havendo um claro défice de escoamento, o que permite concentrar as águas e transformar os túneis em verdadeiras piscinas (não deixa de ser engraçado como a natureza encarrega-se de fazer piscinas em Braga, quando a Piscina Olímpica do alegado Parque Norte continua estagnada).
As estratégias para a cidade ficam rubricadas na carta de ordenamento, pertencentes ao Plano Director Municipal. Um melhor ordenamento do território evitaria esta luta de titãs, onde se digladiam Homem versus Natureza.
Sabemos que as forças da Natureza são difíceis de controlar, pelo que deviamo-nos preocupar em minimizar os seus impactos. Relembro que com as chuvadas do dia 26, voaram telhas da Casa/Recolhimento das Convertidas, entre a Av.Central e a Rua de S. Gonçalo. Numa zona central da cidade, onde passam milhares de pessoas diariamente e onde existe uma escola que alberga crianças e adolescentes, imaginem se à hora da saída das aulas as telhas caíssem em cima dos jovens? E enquanto não se restituem as telhas, dão-se mais infiltrações no edifício histórico, promovendo uma célere destruição deste imóvel histórico. Não minimizando os efeitos, podemos perder vidas humanas e património legado por um dos maiores humanistas do Séc.XVIII de Braga, D. Rodrigo Moura Telles. Torna-se urgente converter a Casa das Convertidas num espaço requalificado e aberto ao público.
Outro local que necessita de um bom Planeamento e que carece de um forte conceito de Ordenamento é a zona das Sete Fontes. Uma zona de água onde se prevê uma forte componente construtiva poderá vir a sofrer os mesmos destinos das construções na zona do rio Este. E impermeabilizar os solos e reduzir as espécies arbóreas tornará Braga uma cidade mais quente no Verão e com forte possibilidade de inundação nos dias de chuva. Por isso, convido o amigo leitor a participar na Discussão Pública, no próximo dia 4 de Novembro, às 21h30 na Junta de Freguesia de S. Victor sobre o Plano de Pormenor para as Sete Fontes. Todos juntos poderemos pensar uma cidade amiga da natureza e com maior qualidade de vida para os seus habitantes, sem estarmos preocupados com o fim do mundo.
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