20 de março de 2012

Crónica A Voz à Juventude (8) Regenerar Braga...

"Correio do Minho" 20/03/2012


Regenerar Braga e a primavera da Cidade
Hoje começa a primavera, estação que se associa à revitalização do ambiente.
As folhas começam a brotar das árvores, os ninhos dos pássaros ficam preenchidos por novos habitantes e o sol deverá aparecer, por entre nuvens, de forma calorosa.
A primavera é sinal de regeneração, algo que Braga vive por estes dias, sobretudo agora que estão a ser implementadas três obras de reabilitação de espaços urbanos e que está previsto, a curto prazo, o início da obra no Largo Carlos Amarante.
Estas novas obras, além do desenho tipificado, que parece unir algumas pontas isoladas em Braga, podem trazer mais-valias às praças alvo de reordenamento, constituindo-as novos pontos de atração da e na urbe.
Ora, se o desenho e as intervenções, de uma forma geral, são parecidos, os pontos que distinguem as praças são os elementos identitários de cada local.

A História da Senhora-a-Branca está marcada pelas laranjeiras, pela passagem da via romana XVII e pelos caminhos medievais que ali se cruzavam. De forma opulenta, ganha visibilidade a Igreja da Senhora-a-Branca e a estatuária ali presente, sem esquecer o bonito chafariz.
No Campo das Hortas, o jardim inspirado noutros tempos, centralizando a fonte de D. Frei Agostinho de Jesus (e não de D. José de Bragança como foi anunciada nos jornais e como nos recorda o Sr. Luis Dias Costa, uma das pessoas mais conhecedoras da História de Braga) pode ser a forma de dar maior enlevo à principal porta de entrada a Braga, cujo Arco da Porta Nova expressa o desenho da mestria de André Soares.
Na Praça Alexandre Herculano, conhecida como Largo dos Penedos, a regeneração avançou, inicialmente, na Rua de S. Vicente, por onde passava a Via Nova e retirou o trânsito automóvel desta artéria,  aproveitando para compor as canalizações ali existentes. Precisamente neste local, a propósito de canalizações, surgiram as condutas de pedra do sistema de abastecimento de água das Sete Fontes. Ora, sabendo que as Sete Fontes são hoje Monumento Nacional, este achado é uma extensão desse monumento que, uma vez que a rua ficará inibida de trânsito, poderia e deveria ser musealizado. Numa altura em que os comerciantes e moradores veem com receio a retirada do trânsito automóvel, muitos destes sugeriram que a conduta de água fosse tratada e colocada à fruição pública, como ponto histórico de atração turístico, que convidasse bracarenses, turistas e outros curiosos a conhecer um pouco da História da Água, da profissão dos “agueiros”, dos sistemas construtivos de proteção às condutas e à qualidade da água.
A JovemCoop apresentou ao Sr. Presidente da Junta de Freguesia de S. Vicente um documento que apontava a necessidade e as mais valias para se proceder à musealização. Sabemos que o documento foi entregue nos serviços camarários para se proceder a uma avaliação.
Ora, o nosso espanto foi descobrir pelos órgãos de comunicação social que a CMB não irá proceder a qualquer musealização desta conduta (lembramos que a intervenção ainda vai no início e que ainda há um enorme troço de canalizações históricas dali até ao largo dos Penedos que podia ficar visível e musealizada) e que não recebe lições de preservação do património de ninguém. Além da clara falta de cultura democrática, aquilo que a CMB se deveria orgulhar é precisamente pela cidade e os cidadãos contribuírem com ideias, pois mal está a cidade em que os cidadãos não participam e que os executivos políticos vivem fechados sobre si e sobre as suas ideias.
Além de que é um claro contrassenso, em ano de Capital Europeia da Juventude, que as instituições do projeto ligado à CMB apelem à participação dos Jovens, apelem à cidadania, rubriquem no programa oficial atividades como as que a JovemCoop tem vindo a desenvolver (nomeadamente Curso da História da Cidade de Braga, Caminhadas por vias romanas, percursos interpretados pelo Barroco de Braga, desenvolvimento de sinalética interpretativa para monumentos) e depois a autoridade máxima do executivo afirma que não recebe lições de ninguém. Não são lições, são contributos e partilhas.
Por isso, ao celebrar hoje a primavera, renovamos os votos de ver renascer uma cidade participativa (as nossas atividades ligadas ao património têm tido sempre lotação esgotada e isso leva-nos a crer que há interesse e vontade) e que não se ofenda com os contributos de quem quer pensar o melhor para a nossa cidade. Que além de flores e pássaros a chilrear, possa Braga, esta primavera, fazer brotar um novo pensamento de gestão alicerçado num novo espírito de intensa cooperação.






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