29 de junho de 2012

Arqueologia do Esconde-Esconde

"Diário do Minho" 27/06/2012

Já muito foi dito relativamente às obras do Regenerar Braga, em geral, e do Largo Carlos Amarante em particular...

Aqui foi dito que se destrói; E aqui diz-se que se defende; Aqui, houve a necessidade de responder às acusãções e aqui tentou-se sensibilizar os cidadãos para a preservação da memória;

Não querendo entrar numa troca de acusações, a nossa vontade foi alertar para a vontade de se preservar a memória a partir de exemplos já consolidados, tentando promover uma reflexão sobre o que fazer aos vestígios arqueológicos. Tentamos ser mais coerentes do que emotivos, menos fundamentalistas e mais realistas.

À altura escrevemos:

A propósito da valorização do património, parece pertinente discutir os critérios que conduzem à preservação e musealização, apenas à preservação e à preservação pelo registo e consequente destruição física.

Faltam apurar estes critérios para sabermos porque motivo tantos vestígios arqueológicos são dados como de desinteresse patrimonial, científico ou em prato deficitário na balança do progresso.


No passado dia 27 fomos brindados por um comunicado a Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, que refere terem encontrado a Porta dos Cavalos do Convento dos Remédios, numa postura de louvar, pois finalmente tomaram a dianteira da comunicação, não dando aso à especulação.

O que nos leva a reflectir é, precisamente, esta política de esconde esconde, que encontra o que estava escondido e volta a tapar. A arqueologia do registo, que não passa para os cidadãos e que não lhes permite vivenciar as heranças culturais, de pouco vale à cidade, apenas contribuindo para o conhecimento científico, distante da população.

O facto de o Arqueólogo responsável afirmar que o achado é mais interessante do que importante, revela a falta de coerência com que se perspectiva a arqueologia. Tem interesse para a comunidade científica, ajuda a completar o puzzle da história do Convento dos Remédios, mas continuará a não ser lembrado, de forma alguma, pela população, porque foi tapado com geotêxtil e ficará escondido novamente.

Sinceramente, é uma desilusão não haver uma única vontade de se poder integrar o vestígio na renovada praça...dar-lhe-ia carisma e identidade...infelizmente não é esta a leitura dos responsáveis do património de Braga!

E, visto de longe, este vestígio parece ter sido "achado", tendo em conta que não se vê ali uma configuração de sondagem arqueológica, mas sim os rastos da máquina rectroescavadora. Absolutamente lamentável isto acontecer em pleno Centro Histórico, sobretudo porque não aproveita a oportunidade para catequisar e sensibilizar os cidadãos para a arqueologia, continuando esta área de actuação a querer estar longe da população.


2 comentários:

Anónimo disse...

Vestígios desta imponente estrutura foram também identificados nas escavações realizadas no antigo Quarteirão dos CTT e no prolongamento do Túnel da Avenida da Liberdade.Também eles seriam de pouca relevância.Não questiono a natureza da importância dos mesmos porque a informação disponível ao comum dos cidadãos não permite fazer esse tipo de avaliação.O que me incomoda é que o responsável desenvolveu trabalhos em espaços religiosos da mesma matriz deste mas em contexto rural, defendendo sempre a sua importância e relevância.Parecendo que não, existe aqui uma linha orientadora bastante bem definida, dinheiro.Nos outros projectos que referi pagava-se para proteger o património, o que foi feito parcialmente já que alguns projectos não chegaram ao fim. Em Braga paga-se para o avanço da obra, e aí cumpriu-se integralmente, sempre em sacrificio do património.A questão é perceber o que distingue a UAUM de uma empresa de arqueologia?Absolutamente nada em termos de trabalho de campo, em termos de ética e deontologia tudo!Onde está a investigação ou a divulgação científica?Os relatórios nada têm de investigação, basta de pseudo-investigadores!

Miguel Marques disse...

Caro Anonimo ainda bem que disse o que vc disse.. finalmente mais alguem com uma visao clara e nao distorcida da realidade da arqueologia bracarense... so nao concordo com a questao da distinção não distinçao da UAUM com uma empresa... é que uma empresa paga impostos directos... o seu software , as suas viaturas, as viaturas e computadores da UAUM sao pagas por todos nos... alias ja vi a viatura da UAUM a ser usada para uso pessoal... o que ja desde si é ilegal...