24 de maio de 2011

Se a arqueologia fosse levada a sério...

"Diário do Minho" de 23/05/2011

Se a arqueologia fosse levada a sério, não haveria titulos de jornais a afirmar que as obras no centro de Braga são atrasadas devido a este factor.

Curiosamente, na semana em que se celebra a Braga Romana e, pelos menos, os cerca de 2000 anos de história de Bracara Augusta, a arqueologia é encarada como uma surpresa no subsolo.

Está na hora de mudar as mentalidade, isto é...se Braga tem um Gabinete Municipal de Arqueologia e tem uma Unidade de Arqueologia afecta à Universidade do Minho e se já está provada a ocuapção ancestral da cidade de Braga, porque razão é que ainda se acha que a Arqueologia é um factor surpresa?

Sabendo que o Centro da Cidade de Braga é continuamente e sucessivamente ocupado pelo Homem, é natural que surjam evidências de várias cronologias. Logo, quem promove obras no centro da cidade ou é mal informado ou quer ultrapassar as regras.

Se a CMB já tivesse definido os limites de intervenção arqueológica, apoiada no conhecimento que já detém do subsolo de Braga, então podia dividir áreas. Damos um exemplo:
No perimetro do casco central, intervenções que afectem o subsolo devem ter escavação(imaginemos aqui um mapa com um anel vermelho);
Na transição da cidade para as periferias, sobretudo onde se conhecem povoados e vias antigas sugerimos uma intervenção primeira apoiada em prospecções e sondagens de diagnóstico (e aqui desenhamos um circulo laranja sobre o mapa);
Fora das localidades, sobretudo em zonas rurais, devia-se apostar nas prospeções e só depois de efectuadas avaliar se há condições de iniciar a obra ou se precisam de mais estudos arqueológicos (e desenhamos sobre estas áreas um circulo amarelo).

O Gabinete de Arqueologia da CMB deve poder fazer uma estimativa de de tempo, mediante os trabalhos arqueológicos recomendados. Assim, na entrega do processo por parte do promotor, a CMB já podia informar o mesmo de que antes de iniciar a obra são precisos x dias. E após as intervenções efectuadas, a obra pode decorrer.

Se o promotor souber que só pode começar a obra 30 dias ou 50 dias depois, já não gasta dinheiro em contratar empreiteiros e máquinas que ficam paradas enquanto se desenrolam as intervenções.

Pena é que a prática em Braga é de primeiro iniciar as obras e só depois enviar as equipas de arqueologia para registar informação como forma de minimizar a perda de dados. Assim, claro que as pessoas acham que a arqueologia é um atraso...de dinheiro e de vida!

Fica a recomendação!

3 comentários:

Miguel Marques disse...

Embora não concorde a 100% com a formula aqui prevista para carta arqueologica de risco a verdade é que ela esta atrasada mais de 35 anos.

Desde 76 que existe uma UAUM desde essa data que deveria existir uma preocupação de criação de uma carta arqueologica de risco inserida no regulamento do municipio (PDM desde 95). A verdade é q tal não existe, a verdade é q mt informação foi perdida, a verdade é que existem responsáveis aos quais nunca foram pedidas responsabilidades, mas o que choca em Braga é q mts vezes esses culpados (a conta de uma comunicação social mt pouco isenta e eivada de amiguismos) são vistos como os paladinos da defesa do patrimonio.

JovemCoop disse...

Caro Miguel Marques,
obrigado pelo comentário, pois ajuda sempre a discutir estas questões, onde não há uma modelo totalmente certo e uma verdade absoluta.
Não é nosso intuito apresentar "o modelo" para Braga, mas sim mostrar que se houver organização e se se assumir a arqueologia como algo que preventivamente tem de se realizar na cidade de Braga, então já os promotores saberiam que tinham de realizar intervenções antes de avançar com as obras.
Enquanto subsistir esta política de primeiro metemos as máquinas em obra e depois lá se pára alguns dias para entrar as equipas de arqueologia, que têm de intervencionar rapidamente porque o promotor não quer elevar os custos de obra, então a nossa arqueologia e reservas patrimoniais esgotar-se-ão sem serem devidamente intervencionadas e preservadas.
Concordamos, plenamente, que devia existir uma Carta de Risco actualizada que considerasse estas situações.

MIguel Marques disse...

Ola bom dia,

Tendo em consideração que a UAUM (existente desde 1976) e o Gabinete da Camara (existente desde 95) ainda nada fizerem pela existência de regras definidas na arqueologia e considerando ainda que a JovemCoop ganhou nos ultimos anos grande reputaçao na cidade proponho-Vos que inicem esta discussao em torno de uma Carta Arqueológica de Risco. Mas não uma Carta como a que actualmente existe no PDM que apenas identifica os sitios arqueologicos. Tem que ser uma Carta que acima de tudo regulamente os trabalhos que possam intreferir com potenciais sitios arqueológicos.

Apenas como sugestão inicial deixo a seguinte:
- Toda e qualquer obra publica ou privada que preveja a modelação de terrenos, desaterros ou movimentação de terras deverá, por principio ser acompanhada por um arqueólogo.
- Exceptuam-se situação onde pela proximidade de vestigios arqueológicos seja necessária a execução de sondagens arqueologicas de avaliação previa.


Isto é so uma ideia inicial... acho que, acima de tudo a discussao é urgente devendo esta ser levada a todos os partidos com assento na assembleia municipal.

Não basta uma mera declaração de intenções, ou dizer que se está interssado ou que o projecto de salvamento de B racara Agusta serve.. Não não serve exemplo disso sao as continuas destruições que temos assitido ao longo dos anos.