"Diário do Minho" 06/08/2012
"O NOSSO PATRIMÓNIO"
Braga é uma cidade viva, que ao longo dos tempos foi reorganizando
o seu espaço, em função das suas necessidades e correntes da época. Estas
sucessivas acções de reconstrução são bem datadas desde a presença romana, onde
mesmo anteriormente é possível verificar a existência de povoados da Idade do
Bronze.
Dentro do período romano conhecem-se várias alterações e
transformações dos edifícios e dos espaços públicos, algo que fica marcado na
estratigrafia sedimentar ou arquitectónica.
Ainda que haja alguma dificuldade em perceber a transição da
cidade de Bracara Augusta para a Idade Média, vai-se tendo a certeza da
contracção da cidade e do reaproveitamento dos materiais. Hoje, podemos
imaginar como seria Bracara Augusta ou a Braga Medieval a partir das evidências
arqueológicas, mais do que por registos documentais.
Em 1750 surgiu uma
publicação que descrevia graficamente as ruas da cidade de Braga, cujo
documento tornou-se uma das melhores fontes de consulta. Hoje, o Mapa das Ruas
da Cidade de Braga são um “manuscrito
raro pela sua beleza e originalidade”, que teve a sua génese numa cronologia de
reestruturação administrativa da Sé de Braga, que mandou elaborar este
documento como forma de melhor reger os bens do cabido, após anos de gestão
débil. Quem conhece o documento, sabe que é um registo de ilustrações dos
alçados dos imóveis que compunham as ruas, permitindo conhecer as suas
volumetrias e os topónimos da época.
Numa cronologia bem mais
próxima da actualidade, a Capela de Guadalupe, como tantos outros edifícios
religiosos isolados em zonas desprovidas de capital humano, foi assaltada e os
ladrões levaram consigo, entre outras coisas, algumas alfaias religiosas. Na
altura em que a Polícia Judiciária pediu a descrição dos elementos furtados,
chegou-se à conclusão que não havia fotos, nem se conseguia pormenorizar a
peça.
A junção destes dois
episódios, levou a JovemCoop a estruturar uma actividade designada “O Nosso
Património”, onde o principal objectivo a alcançar era o de registar e
inventariar o maior número de sítios e de peças de arte, capazes de serem
compilados num dossier que servisse de repositório informativo desses sítios. Em
caso de qualquer contrariedade, a JovemCoop poderia dar uma ajuda na descrição
das peças de arte ou na descrição dos edifícios, tendo encontrado na Junta de
Freguesia de S.Victor o parceiro ideal na vontade de proteger o património.
Para tal, os participantes, com fitas métricas, bússolas, máquinas fotográficas
e fichas de inventário começaram a conhecer o Património da freguesia de
S.Victor, variado na sua cronologia e função.
Mas cedo nos apercebemos
que tínhamos, entre mãos, outra missão que complementava o registo…à medida que
conhecíamos os sítios, nascia nos participantes um carinho especial por aquele
local, pela história associada ou pela vontade de o preservar. Percebemos que à
medida que aproximávamos os jovens do património, estávamos a dar a conhecer a
história do local, parte da História de Braga e que esse conhecimento gerava
paixão, orgulho nas raízes de Braga.
Este ano, a JovemCoop
cumpre a oitava edição de “O Nosso Património”, actividade que ultrapassou as
nossas melhores expectativas. Ao longo de quatro semanas cerca de quarenta
participantes e quinze monitores vão calcorreando os locais de S.Victor, mas
também S.Vicente e S.Lázaro. Sentimos que os nossos participantes são cada vez
mais participativos e opinativos sobre o desenvolvimento de Braga e os
conceitos de preservação da nossa memória.
Percebemos, então, que se
queremos que as mentalidades mudem, primeiro é preciso haver gente que queira
essa mudança (e abnegadamente dar o seu tempo livre em prol da comunidade) e
gerar diálogos e estimular opiniões nas gerações mais novas, para que as
gerações de hoje sejam os decisores de amanhã.
Após semearmos o gosto
pela História da Cidade, somos confrontados, ao longo do ano com pedidos de
informação, proposta de ideias e sugestões de novos sítios para registar e
ajudar a preservar.
Este é o legado que ficará
para o futuro, além de 2012. O Capital Humano interventivo, mais consciente,
que gosta da cidade e não permitirá que se atropele a nossa História e se
destruam os nossos monumentos. Será, por ventura, uma geração mais
consciencializada de que numa urbe em constante mutação tem de haver espaço
para o crescimento sustentado, baseado no diálogo e cooperação entre os
cidadãos e os agentes com responsabilidade nas políticas de cidade.
“O Nosso Património” não é
só um conjunto de fichas de papel, é uma corrente de educação não formal, em
período de férias que promove o conceito de cidade, cidadania activa e o amor a
Braga.
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