5 de setembro de 2012

BragaCEjLTA: algumas reflexões

"Correio do Minho" 04/09/2012

A Cidade de Braga recuará, novamente, ao período da Idade do Ferro, recriando historicamente o quotidiano dos povos desta cronologia.

A iniciativa, sendo louvável (porque o saber não ocupa lugar e importa reforçar as nossas potencias históricas como meio de atracção e de educação), causa-nos alguma estranheza por alguns motivos:

1 - Apesar de ser positivo investir numa recriação histórica, dado que já houve uma acção semelhante em Julho, não seria mais benéfico investir o dinheiro na valorização das estruturas ali existentes, antes de haver lugar às recriações? Lembramos que a UAUM tem um projecto formulado para este local, que apesar dos valores serem superiores, este financiamento de 61.500€ poderia ser uma alavanca para se iniciar um projecto de valorização daquele sítio. (ver programa valorização UAUM).

2 - O sítio da Santa Marta das Cortiças está classificado como Imóvel de Interesse Público desde os anos 70 do século passado (ver aqui ficha descritiva no site do IGESPAR).
Para esta recriação histórica, terão sido os serviços da DRCN informados desta intenção e autorizado este evento? Haverá algum acompanhamento por parte dos técnicos da DRCN da instalação do evento, dado que este se situará numa zona classificada?
Lembramos que junto de uma zona classificada, deve haver autorização, para que não se assistam a instalações abusivas e que descaracterizem o sitio (lembramos a recente polémica dos W.C's na festa WAY junto da Sé catedral);

3 - A administração da BragaCEJ2012 que ainda há dois meses afirmava publicamente que havia escassez de dinheiro, dá-se agora oa luxo de apoiar dois eventos semelhantes, separados cronologicamente por dois meses? Qual o critério para a repicação destas iniciativas?

4 - A ser verdadeiro o valor de 61.500€ dispendidos nesta recriação, como justificar ser mais cara que a Braga Romana, evento que é cartão de visita da cidade de Braga, ou seja, uma aposta clara e assumida pelo município de Braga?

5 - Além das cronologias do periodo da Idade do Ferro, a zona da Santa Marta das Cortiças tem outras cronologias associadas às estruturas arqueológicas:

"Entretanto, as escavações arqueológicas conduzidas na estação já na década de cinquenta de novecentos permitiram localizar os alicerces de uma construção constituída por ábside semicircular e três naves, erguida entre os séculos V e VI d. C., enquanto o final dos anos setenta trouxe à luz do dia um número considerável de sepulturas romanas de incineração com bastante espólio associado, identificadas pelos investigadores nas proximidades deste mesmo edifício de tipo basilical. Uma realidade que reafirmava, no fundo, a possível reutilização deste espaço ao tempo da conquista romana, a julgar pelos materiais de construção recolhidos no local por A. Bellino, entre os quais tegulae - telhas rectangulares - e imbrex - telhas em forma de meia cana." (site igespar)

Ou seja, falamos ainda das cronologias romanas e da antiguidade tardia, onde nesta última cronologia assume relevância as "ruínas de um grande edifício de planta rectangular correspondente a um palácio suevo-visigótico e de outro edifício também de planta rectangular correspondente a uma basílica paleo-cristã, este último sobreposto pela estrada de terra batida que dá acesso à rotunda onde se ergue a estátua de Nossa Senhora da Assunção." (vide Programa Valorização UAUM).

6 - Tendo este evento a vontade de formar professores e sensibilizar jovens, terá o programa deste festival conferências, tertúlias e debates com carácter de educação e formação?
Esperemos que sim, pois há muito ainda a fazer no campo do conhecimento e educação sobre estes períodos cronológicos.



1 comentário:

Miguel Marques disse...

Estara alguem a dar apoio cientifco ao Projecto? Aquela maquete parece me desde já nao corresponder às estrturas existentes naquele castro.... mais a designação de celta desde logo é erronea... se o objectivo é sensibilizar e despartar consciencia para o patrimonial nao seria util que a informaçao fosse a mais correcta? É que este tipo de informação depois perpetua-se dou o exemplo da cidade do Porto, mesmo hoje as informações em varios sites e mesmo algumas publicação dao por certa a construção de uma muralha no periodo suevo no morro da Sé. Ora desde 83 com as escavações do Manuel Real que se sabe que a muralha é da antiguidade tardia (periodo romano) ou seja seC III. Nao estamos aqui a correr riscos cientificos com este tipo de designações?.

Segundo aspecto... o famoso orçamento da UAUM... é o tipico orçamento "à empreiteiro" atiram-se os valores e pronto já está... ah isto custa mais ou menos... não é bem assim ... mais rigor de uma uma instituição universitaria por favor.